Já passaram 2 semanas desde que o Sporting Clube de Braga venceu a Taça de Portugal. Em consequência poderá parecer que este artigo, ao falar da vitória do Braga, já vem tarde e não passa de uma reação lenta.
Na verdade, ainda que tivesse passado um mês, não queria deixar de escrever sobre um assunto que sei que é do interesse dos bracarenses e, por afiliação fraternal, dos minhotos. No entanto, antes que o leitor se deixe enganar ao pensar que falarei de futebol, devo dizer que não é o caso, isto é, não vou falar de futebol.
“Fala do Braga mas não fala de futebol?! Como é isso?”. Explico-me. O SC Braga e a sua vitória interessam-me mais pelo significado que se lhes pode ser atribuído do que propriamente pela performance desportiva. Devo confessar (para desilusão de alguns leitores, talvez) de que nunca prestei muita atenção ao futebol, embora perceba (e até me deixe contagiar com) o entusiasmo, alegria e mesmo motivação que o desporto rei gera nos seus aficionados. Então, considerando o pouco que sei sobre futebol, porquê falar da vitória do Braga? Lembro-me de duas razões principais.
A primeira, mais pessoal, pode ser explicada por um sentimento comum a todos os povos mas que os portugueses tornaram numa das suas principais marcas nacionais: a saudade, que, poética ou nem tanto, é uma das características mais refinadas da cultura portuguesa. E ninguém sente saudade até começar a pensar nela, algo que acontece sempre que se fala de casa. Assim, como bom português que tento ser, fiquei bastante feliz quando li nos jornais nacionais que o Braga tinha ganho o campeonato: a vitória do Braga trouxe-me um momento de pausa para pensar precisamente em Braga.
Claro que quem pensa em Braga, vê-se a pensar no Minho. E quem, vivendo no estrangeiro, se deita nestas ideias envolve-se imediatamente numa reflexão mais ou menos interessante sobre os contrastes entre a cidade onde vive e o sítio onde nasceu. E são imensos e com vários tamanhos, formas e feitios, esses contrastes. Uns parecem melhor vistos daqui, outros têm melhor aspeto vistos de Portugal. No entanto, para quem a identidade cultural, histórica e social de se ser português é um fator de importância, estas reflexões sobre o que é, afinal, ser-se português, minhoto e bracarense não devem ser desprezadas, e devem até ser vistas com saudade.
A segunda razão, não tão pessoal, está relacionada com a importância social e cultural que o futebol tem enquanto fenómeno de massas. Mais do que uma vitória num campeonato desportivo nacional – que é de futebol mas que podia ser de outro desporto qualquer que fosse elevado ao estatuto de “rei” – a conquista do Braga pode também ser vista como um marco interessante que marcou a vida recente da cidade e que, quer se goste quer não, terá um significado especial na identidade cultural dos bracarenses. Naturalmente outras cidades ganharam o campeonato mais vezes, e nem todos os bracarenses são adeptos do SC Braga. Contudo, por ser uma das principais projeções nacionais e internacionais de Braga, os bracarenses devem estar atentos ao fenómeno cultural que segue o clube que enverga o nome da sua cidade. Braga apresenta uma riqueza cultural, histórica e social bastante peculiar que acaba por estar intrinsecamente ligada à identidade dos seus cidadãos. Desta forma, o SC Braga é um dos elementos que define essa mesma identidade, tal como outros elementos ou símbolos mais tradicionais e que refletem os costumes mais antigos e respeitados, como a Sé, a Semana Santa, o São João ou o Bom Jesus. Mais do que um desporto, o futebol e a forma como o futebol é encarado são o reflexo de um fenómeno de união coletiva em torno de um fator de identidade comum. No fundo, o que faz o futebol – e o Braga – não são os jogadores, os estádios ou os campeonatos: são os adeptos.
A vitória do Braga pode também ser lida como uma nota de esperança, mudança e otimismo. Não sou inocente ao ponto de achar que o triunfo do SP Braga é, na realidade, um presságio de um futuro brilhante para a cidade. Tal interpretação seria abusiva. Contudo, a vitória da Taça poderá ser vista como uma referência temporal que marca tempos de mudança e entusiasmo de uma cidade que, afinal, ainda consegue ser jovem e mostrar entusiasmo e dinamismo para enfrentar o futuro. Apesar de todas as suas riquíssimas, intrincadas e, por vezes, pesadas tradições, próprias de uma cidade com muitos séculos de vida, os bracarenses devem manter sempre presente que não precisam de abdicar das suas raízes culturais mais profundas para crescerem, para se dinamizarem e para encararem o futuro da sua cidade com energia e entusiasmo.
Então, a vitória do Sporting Clube de Braga marca o início de uma época positiva para Braga? Talvez sim, talvez não. Essa decisão cabe aos bracarenses.