Estranha maneira de dar título a este texto, com uma declaração tão assertiva, sem espaço para discussão sobre o assunto. Mas, de acordo com a minha experiência, não haveria melhor maneira de o fazer.
Foi o segundo ano em que vagueei pelas margens do rio Coura e tive o privilégio de assistir aos inacreditáveis músicos que deslumbram os públicos nacional e internacional. Talvez quem nunca tenha tido esta experiência não perceba o que tal significa; mas para nós, aqueles que já vivenciaram o festival Courense, a semana passada por entre a pequena vila e o recinto é a mais antecipada do ano. Não só pela música (essa, claro, foco de toda esta experiência), mas pela vida no campismo, pelas refeições “às-três-pancadas”, pelas frases atiradas ao ar (repetidas infinitas vezes ao longo do dia), e pelas amizades, tão resistentes como a pulseira-bilhete que todos exibem com orgulho.
Tendo já ido no ano anterior, tudo isto não me seria novidade. Seria suposto ir mais bem preparada, sim, talvez com mais variedade de enlatados ou novas receitas aptas ao campismo, mas já mentalizada para aquilo com que me depararia; repito, “seria suposto”. Mas o ano passado, em tom de brincadeira, entre amigos e desconhecidos, prometi a mim mesma que na seguinte edição do festival iria pisar o grande palco.
Sublinho o “tom de brincadeira”, pois, em plena consciência, sabia que seria impossível, eu, com toda a minha “insignificância”, calcar a mesma estrutura que suportou pesos pesados da música. Sonhei alto, queridos leitores, e por mão da sorte, destino, ou forças supremas, o meu desejo tornou-se realidade.
Por mero acaso, um certo dia de manhã a caminho da escola, sintonizei a rádio para a Antena 3, onde transmitiam a publicidade da “Escola do Rock”, um projecto que só pelo nome (impossível de não associar ao icónico filme Richard Linklater com Jack Black) me cativou. Semanas depois lá estava eu, na pacata Paredes de Coura, onde por duas semanas ensaiámos exaustivamente com o objectivo de construiur um repertório que, com orgulho, tocámos em diferentes salas e recintos, culminando todas estas atuações naquela da passada quarta-feira no palco principal do festival.
Ora, seria neste momento que, eloquentemente, deveria descrever a experiência de caminhar sobre aquele majestoso palco, mas não consigo, desculpem. Por muito que tente, é impossível esclarecer o quão avassalador foi ver perante mim o público onde pertenço, vivenciar o “Couraíso” do outro lado. E apesar de ter a consciência de que a minha voz seria ouvida por todo aquele recinto, não me senti assustada; foi intimidante, sim, mas não assustador. Foram 45 minutos de pura satisfação, e acho – aliás, tenho a certeza—que nunca vou esquecer a sensação das palmas, gritos e assobios que soaram durante a nossa atuação.
O que vos posso dizer é que, desde que saí daquele majestoso pedestal, sonho em pisá-lo de novo. Sonho alto, com toda a minha força, pois, na realidade, a experiência já me provou que o Paredes de Coura torna sonhos realidade. Quem sabe.
Mafalda Costa