Um balcão de café ao Domingo é o cenário ideal para se conhecer esse sítio mal frequentado em que caminhamos de forma errática entre a hipocrisia do que se mostra e a superficialidade do que se vive. “Cidade Domingo” é o espelho que vemos já ali, ao virar da esquina, na tal cidade que “mete os podres para dentro e se junta no Café Domingo, toda sorrisos, a beber chá, leite e limonetes”. Até que chega o Mistério. Não é religião, não é arte, não é política mas transmuta a cidade do confortável Domingo coquete de veludo numa alienada noite de Sábado folião. E é ali, entre os desígnios colectivamente alimentados pela retórica do tem que ser porque não há outra alternativa, que a cidade Domingo se expõe em toda a sua crueza. Resta-nos a visão crítica e descomprometida do empregado de balcão (na foto), aquele que tudo ouve e vê sem nunca se envolver.
Divertida, mas indigesta, Cidade Domingo é uma peça encenada por João Henriques e produzida pela Companhia de Teatro Oficina que transporta o código literário de Jacinto Lucas Pires, o escritor dos elementos desconcertantes para descrever os factos simples que nos vão consumindo, e que conta com a participação do marionetista Brice Coupey.