A relação entre a dança e música é algo quase transcendental — a respiração da coreografia é pautada pelo ritmo e a música condiciona a forma como o movimento se apresenta no palco, e é este o ponto de partida para a peça de Tânia Carvalho.
De mim não posso Fugir, Paciência! estreou em 2008 mas foi novamente apresentada nesta que é a 7ª edição do Festival Guidance. A peça do repertório de Tânia Carvalho explora a maneira como a musica se alimenta da dança e vice-versa – uma condiciona a outra e ambas têm um papel fundamental na performance.
Nesta peça Tânia Carvalho assume o papel de intérprete musical, tocando piano enquanto no palco os seus quatro intérpretes vão reagindo ao estimulo musical a que são sujeitos. No entanto, destaca-se nesta performance a forma como os intérpretes reagem ao estimulo, com um movimento altamente estilizado, que apesar de parecer estranho ao público parece ser perfeitamente inato nos bailarinos, como se fizesse parte deles.
A quase obsessão pelo detalhe do gesto está presente no mais pequeno detalhe, desde a expressão facial bizarra dos performers, passando pela especifidade do movimento e uso e abuso do staccato — este que é tão preciso coreograficamente como musicalmente.
A interacção entre a musica e a performance realça e eleva este movimento característico, havendo por entre trechos de música clássica, a ruptura total da melodia, que leva também à ruptura da estrutura coreográfica, mostrando assim que o músico, na interpretação do seu instrumento, assume também o papel de bailarino, sensível aos estímulos que lhe vão chegando do palco.