Cosmopolis, a obra prima de David Cronenberg que acaba de estrear em Guimarães, é um inexorável confronto com a nossa realidade, um novo manifesto para os nossos dias, um encontro com a banalidade quotidiana que tanto nos corrói e uma insuportável narrativa da perversão com que ainda toleramos as transgressões morais do capital. Cosmopolis confronta-nos com um tempo em que o dinheiro subverteu o tempo que é dinheiro e com uma propriedade que já não cabe nos limites do nosso espaço mas sobretudo com as pequenas intermitências de um quotidiano, que é o nosso quotidiano, salpicado de loucura. Cosmopolis é, por fim, uma metáfora desse caminho em que nos movemos acriticamente em direcção ao nada que vemos acenar no final da esquina para, quando lá chegarmos, desejarmos que o nada que nunca lá esteve se vá embora. Desconcertante, desconcertado, Cosmopolis é um soco no estômago que nos faz empatizar, como empatizamos quotidianamente, com o discurso do establishment capitalista. Estaremos todos loucos?