Este não é bem um festival de cinema (e isso é bom)

Close Up: o filme de Kiarostami é a inspiração assumida do festival

Close Up: o filme de Kiarostami é a inspiração assumida do festival

Na era do evento em que vivemos, o anúncio de um novo festival de cinema pode ser o suficiente para fazer torcer o nariz. Mais um? Para quê? E o que vem afinal acrescentar ao meio cinematográfico nacional? Depois de conversar com Vítor Ribeiro, o director do Close Up, que começa na próxima semana em Vila Nova de Famalicão, percebi que estávamos de acordo. Um novo festival não pode ser apenas mais um festival. Daí que aquilo que ele programou não seja bem um festival de cinema – sendo-o. E isso é positivo.

O Close Up foge à classificação como festival desde logo no subtítulo: chama-se Observatório de Cinema. O que vai acontecer na Casa das Artes de Famalicão entre 27 e 30 de Outubro é apenas o “primeiro episódio”, anuncia-se. Por isso, cada uma das oito linhas de programação terá filmes exibidos na próxima semana, mas também sequelas (ou réplicas) a acontecer ao longo do ano, a cada dois meses. Ribeiro, que vem do universo cineclubista – é presidente do Cineclube de Joane, que assegura a programação de cinema da Casa das Artes –, percebe que fazem-se cinéfilos através da exibição regular e não da efemeridade de um evento.

E se é verdade que, durante quatro dias, serão exibidos mais de 20 filmes, é também de sublinhar que do programa constam também filmes comentados, debates e seminários, num formato que se aproxima também do meio académico. Pelo Close Up passarão realizadores como Manuel Mozos, Sérgio Tréfaut ou André Príncipe, jornalistas como Clara Ferreira Alves ou Vasco Câmara e académicos como David Pinho Barros e Manuel Sarmento.

É claro que há também festa. Desde logo com um filme-concerto na sessão de abertura: O Marinheiro de Água Doce de Buster Keaton, musicado pelo quinteto de Bruno Pernadas. No final de cada um dos quatro dias há também lugar às sessões de DJ Close Up, sempre a partir da meia-noite, no café-concerto da Casa das Artes, onde as bandas sonoras vão estar em diálogo com a história do cinema.

Quanto aos filmes, os destaques principais vão para a atenção que é dada ao Japão na secção Histórias do Cinema, onde se cruzarão o mestre Yasujiro Ozu (“A Flor do Equinócio” e “Bom dia”) e Isao Takahata, um dos criadores dos míticos Studio Ghibli (“A grande batalha dos Gaxinins” e “Memórias de Ontem”); e também a secção Cinema Mundo, onde o artista em destaque é Gabriel Mascaro, autor de “Boi Neon” (exibido a 28 de Outubro, às 21h45) e senhor de uma vasta obra que questiona cada vez mais os limites do cinema na relação com as outras artes.

O espaço reservado para o cinema português é também ele particular. A secção Fantasia Lusiana recupera um conjunto de filmes marcadamente subjectivos e pessoais, alguns deles quase diarísticos, que têm marcado a produção recente do cinema português e que têm andado arredados das salas de cinema, incluindo as das generalidades dos cineclubes. Será essa a oportunidade para ver “Campos de Flamingos sem Flamingos”, de André Príncipe; “In Medias Res”, de Luciana Fina; “Gipsofila”, de Margarida Leitão ou “Rio Corgo”, de Maya Kosa e Sérgio da Costa.