Celebrar o Dia Mundial do Teatro

Theatro Circo © Público

Theatro Circo © Público

Para que servem as efemérides? Para se mostrar serviço. Mesmo que passemos todo o tempo a esquecer a data que tão pomposamente nos esforçamos por assinalar. É assim no 8 de Março, em que de repente nos lembramos do papel da mulher, mesmo que passemos o ano todo a fazer perdurar (ainda que inconscientemente) as práticas de dominação masculina. É, em muitos casos, o que acontece no dia do Pai, da Mãe, dos Namorados, da Criança. Do que seja.

Também é assim no Dia Mundial do Teatro. A efeméride assinala-se esta quarta-feira, dia 27 de Março. E a postura dos dois teatros da região não podia ser mais oposta.

O Theatro Circo (TC) propõe uma retrospectiva da clacissíma trilogia de Orestes, de Ésquilo, uma das obras maiores do teatro grego. As três peças (Agamenon, Coéforas e Euménides) retratam a vida da família de Atreu, rei de Micenas após o fim da guerra de Troia. A Companhia de Teatro de Braga (CTB) trabalhou as duas primeiras peças no ano passado, numa tentativa de abordagem contemporânea e política à obra. Para assinalar a data em que se festeja o teatro, sugere-nos que revisitemos a trilogia, agora completa, numa maratona que começa às 19h00 e termina, dizem-me, sete horas depois (não há como confirmá-lo nos suportes de comunicação do TC nem da CTB). A boa notícia é que a entrada é livre.

No Centro Cultural Vila Flor (CCVF), em Guimarães, o dia 27 não tem programação especial para assinalar a data. Dois dias depois, o palco do grande auditório recebe a encenação de Nuno Cardoso para a “A visita da velha senhora”, espetáculo de que o centro cultural vimaranense é um dos co-produtores.

Esta diferença de comportamentos é, de resto, coerente com o que tem sido o posicionamento dos dois espaços minhotos. E com as visões distintas que os responsáveis dos dois teatros têm da sua missão. Pessoalmente, revejo-me mais na forma de actuar do CCVF. O teatro celebra-se fazendo-o todos os dias. É isso que é feito quando se decide ser co-produtor do que de melhor se cria em Portugal ou acarinhando uma companhia local como o Teatro Oficina que, com poucos meios, faz um trabalho artístico muito valioso.

O TC e a CTB são hoje duas instituições pesadas, algo paradas num tempo que não é o mesmo da maioria dos criadores contemporâneos nacionais. Braga justifica um tipo de abordagem bem diferente e com resultados mais satisfatórios, até porque a cidade investe ali bastante dinheiro todos os anos. E dificilmente será com maratonas de teatro grego que se convencerá o público a voltar a entrar na sala de espetáculos mais bonita do país.