Um estratégia de cultura para Braga

Theatro Circo em obras

Pela sua importância estratégica, a cultura é um bem público de enorme valor cujo investimento apresenta retorno tanto a curto, como a médio e longo prazos.

Com a globalização, o modelo cultural das grandes metrópoles disseminou-se e conquistou a retórica e os anseios de cidades de dimensão mais modesta. Da produção local de cultura ao consumo de uma cultura global, o caminho foi curto. A cultura das cidades converteu-se num bem de consumo indistinguível dos outros bens que importamos. Este movimento levou ao desvio de recursos das comunidades locais para as grandes produtoras culturais e esvaziou os núcleos de produção local, retirando das cidades muitos seus fatores identitários e diferenciadores. A decepção é generalizada e evidente.

É por isso que hoje, mais do que nunca, importa saber se há uma estratégia de cultura em Braga. Mais do que criticar ou censurar o caminho trilhado ao longo da última década, importa que cada cidadão questione a situação atual e reflita sobre o que queremos fazer coletivamente com aquilo que temos.

Há vários aspetos, comuns às cidades de pequena e média dimensão (ver Susan Christopherson, 2004), que contribuem para a situação atual e que importa enunciar:

  1. Ao contrário das grandes metrópoles, as cidades de pequena e média dimensão (como Braga) não dispõem de grandes instituições culturais que suportem as atividades das indústrias criativas (o Porto, por exemplo, tem a Fundação Serralves – privada – e a Casa da Música – que consome mais orçamento público do que Braga, Guimarães, Famalicão e Barcelos).
  2. As indústrias criativas não metropolitanas necessitam de uma massa crítica que só se obtém a nível regional. Contudo, tantos anos depois do lançamento do tão bem-intencionado Quadrilátero Urbano do Minho, as atividades culturais continuam a ser locais, sem qualquer coordenação regional.
  3. Apesar de Braga não ter a diversidade étnica das grandes cidades, a promoção de eventos culturais que celebrem as comunidades existentes também tem fracassado.
  4. A falta de massa crítica resulta no subdesenvolvimento e subaproveitamento das lideranças e do voluntariado, tanto a nível político como nas instituições da sociedade civil.

Sendo certo que a criação cultural e o desenvolvimento das indústrias criativas não dependem, exclusivamente, da existência de instituições culturais e artísticas estabelecidas importa reunir esforços no sentido de reverter a situação atual e mobilizar a cidade e os cidadãos para uma aposta consistente na cultura e nas indústrias criativas. Mais do que enunciar medidas avulsas é fundamental elaborar um programa estratégico que assente em quatro princípios fundamentais:

  1. Identificação de estruturas (públicas e particulares) subutilizadas que poderão ser redirecionadas para as indústrias criativas;
  2. Formação e desenvolvimento de lideranças e agentes que apostem na indústria criativa através da criação de uma agência para o desenvolvimento cultural (com um funcionamento similar à bem-sucedida InvestBraga);
  3. Fomento de uma identidade cultural específica através da qual cidadãos e visitantes usufruam de experiências emocionais marcantes e autênticas; mais do que recriações históricas pontuais de carácter eminentemente comercial – como sucede na Braga Romana – é necessário criar um ambiente permanente de vivência da cultura – “cultura todos os dias” – que seja genuíno, participado e distintivo;
  4. Aposta na cooperação supramunicipal na produção e dinamização do sectores cultural e das indústrias criativas.

Cumprindo todos estes pressupostos, será possível ter uma estratégia cultural em que se concilie a vivência da cultura “pronta-a-consumir” (da Noite Branca, por exemplo) com atividades de investigação, produção e desenvolvimento cultural.