Embora sobrevivendo na tradição, há muito que o Minho, enquanto região, deixou de ter existência formal enquanto divisão administrativa do território. Na Idade Média chamava-se Entre-Douro-e-Minho e era a mais pequena das seis províncias portuguesas. Ocupava, grosso modo, o espaço situado entre os dois rios que lhe davam nome, abarcando um território muito mais vasto do que o do Minho actual, por incluir todo o actual distrito do Porto e se estender por concelhos que agora pertencem aos distritos de Aveiro, Viseu e Vila Real. Na reforma administrativa de 1834, ficou circunscrito ao território dos distritos de Braga e Viana do Castelo, então criados. Um dia haveria de ser repartido por duas sub-regiões, o Alto e o Baixo Minho, cada qual cobrindo um dos distritos que o integram. Desde então, passou a prevalecer a figura do distrito.
Do Minho prevalece a imagem onírica que dele nos deu o padre João Baptista de Castro, que no primeiro tomo do seu Mapa de Portugal antigo e moderno, publicado em 1745, o descreve como terra sumamente fértil, onde a benignidade dos seus ares, a afluência dos seus rios, as abundâncias e delícias dos seus campos comprovam a forma do seu admirável temperamento; donde se animou a dizer Manuel de Faria, que se no mundo houveram Campos Elísios, existiram nesta Província; e, se os não houve, merecia que somente os houvesse nela, se é que este nome se deve dar a sítio ameno e delicioso. Segundo o padre Castro, o Minho também é terra abundante e próspera em população, já que aqui é mais a gente, que a terra, onde não há parte alguma, em que se não ouça tanger algum sino e cantar um galo. Parece toda a província uma cidade continuada.
Nesta cidade continuada, predomina o verde que tanto agoniou Miguel Torga (o verde come o resto do arco-íris… o vinho é verde, o caldo é verde…) e que simboliza a fecundidade das terras e das gentes. Porém, se tudo é muito semelhante e continuado, os seus habitantes não partilham sentimentos de pertença a um espaço comum. Nas terras do Minho, a vinculação local está muito mais arreigada e firme do que a identidade regional.
Manifestamente, não se é minhoto do mesmo modo que se é transmontano, alentejano ou algarvio.
Se hoje é verdade que o Minho não tem existência enquanto circunscrição administrativa, é igualmente verdade que também a não têm Trás-os-Montes, o Alentejo ou o Algarve. No entanto, se perguntarmos a um habitante de Chaves ou de Vila Real como se identifica, é quase certo que dirá que é transmontano; se o perguntarmos a um habitante de Serpa ou de Beja, ouvi-lo-emos dizer que é alentejano; e se a pergunta for colocada a um habitante de Loulé ou de Faro, dir-se-á algarvio. Se se perguntar o mesmo a um habitante de Guimarães e a outro de Braga, ouvir-se-ão duas respostas diferentes. Se mo perguntarem a mim, responderei, conforme a origem do perguntador e a circunstância da pergunta, que sou vimaranense, ou do Norte, ou português ou europeu. Minhoto? Muito dificilmente.
A população dos distritos do Minho mais do que duplica ou triplica as dos distritos que constituem Trás-os-Montes, o Alentejo ou o Algarve. Todavia, de uma simples pesquisa na internet resultam muito mais referências a transmontanos, alentejanos ou algarvios do que a minhotos. Por outro lado, a soma das menções a Braga e a Guimarães, multiplicará quase por sete as que nos são devolvidas quando pesquisámos o topónimo Minho. E, destas, não por acaso, quase metade são referentes à Universidade do Minho.
Não têm faltado tentativas para pôr as diferentes terras deste Minho a trabalharem em conjunto, somando mais-valias e potencialidades individuais, para afirmarem uma identidade regional que, no contexto de um país visceralmente centralizador, tenderia a tornar mais forte o conjunto do que a soma das partes, acrescentando poder reivindicativo regional. Dessas tentativas, onde a Universidade do Minho tem jogado o papel de pivô, os resultados não têm sido particularmente entusiasmantes (recordo, nomeadamente, a proposta do antigo reitor Guimarães Rodrigues para uma candidatura comum da região a Capital Europeia da Cultura).
Pelo trabalho não se vai lá, já se percebeu.
E pelo Ócio?