Sou do norte (Braga) e vivo no sul (Lisboa).
É (agora) uma vez o João e o António – o João, de cabelos encaracolados não deixa nunca o seu carneiro para trás, transportando-o com carinho, o António, desde cedo alternativo de pente, mas puro como um lírio.
São ambos bons rapazes e os peixes querem-lhes muito; por isso mesmo, por serem bons – faz sentido. Uns Santos, mas distintos com certeza. Têm os dois, personalidades diferentes embora pertençam ambos ao Clube do Bem, lá do Ceará.
São líderes espirituais e mais dos ditos peixes, e acabam, pelo mais, por efectivamente os liderar, controlando cada gesto, a memória de 2 segundos, o horário da ração; começando estes a verem a sua própria imagem reflectida, tal como Narciso, sem perceberem e sem se quer se interrogarem porquê.
Estes peixes são de aquário, aparentemente fáceis de manejar, mas, vê lá, se colocas um d`Adão e outro d`Eva no globo de vidro, estes multiplicam-se e acabam por o encher. Muitas cabeças (de 2 segundos – 2 x 7000000000 = 140000000000 segundos), num espaço tão pequeno, pode, no limite, resultar em 140000000000 opiniões (como esta mesmo que vos conto), e isso poderá, por sua vez, gerar conflitos e discussões – a maioria das vezes ridiculamente desnecessárias, pois são opiniões sem poder de mudança, tipo futebol; ou porque o desespero de um futuro igual a hoje leva à criação de jogos mentais.
A somar às suas distintas personalidades, que dividem, desde logo, os peixes em dois grandes grupos, os dois rapazes encontram-se hoje em dia geograficamente separados. Um é do norte, outro é do sul.
Claramente, o espaço geográfico, por existir, cria diferenças a vários níveis, entre os cardumes: pelo clima e temperatura das águas, pelo acesso, por tradições que foram criadas a partir da matéria-prima e que agora criam elas mesmas outras tradições… e por tudo isso é normal que esta separação aconteça.
Em suma, os peixes das águas do norte, que seguem João, são diferentes dos peixes do sul, que seguem António.
As diferenças levam à pergunta: mas qual o melhor desses Populares?
Ainda com diferenças, encontram-se todos os peixes, na mesma bolha e as águas, apesar das marés, correntes e turbilhões, que os separam, são uma massa só, que rodopeia no aquário terrestre.
Afinal, as Sardinhas são sempre as mesmas nos dois polos (e as farturas e as bifanas, e os carrinhos de choque, e o Quim Barreiros e toda a parolada junta) – o peixe quer é festa, sem pensar, não importa se é no norte ou no sul.
Qual vencerá no final? Eu diria o João (por causa do martelo), mas é só uma opinião; e eu sou só mais um peixe de memória curta.