Este é o primeiro artigo de opinião que escrevo para o Ócio. Não imagino espaço para o qual me desse mais prazer escrever neste momento. Sou visitante do espaço desde o tempo em que o Cláudio Rodrigues o imaginou. Hoje, reforçado por uma equipa jovem e cheia de talento, e com a mão também do Samuel Silva, vejo neste grupo a capacidade de fazer algo diferente e que marque o panorama cultural da Região. No acompanhamento da cena cultural, na organização de eventos marcantes, mas principalmente como pólo agregador de uma geração que está sedenta por fazer coisas boas.
Escrevo a partir de Guimarães. E o primeiro tema não poderia ser outro que não esta geração e o que será capaz de fazer pela cidade e a região.
Há um historial de vida associativa e cultural absolutamente marcante na cidade e no concelho de Guimarães. Os vimaranenses são portugueses que se sentem de duas nações. Não serão poucos aqueles que antes de Portugal, se sentem de Guimarães. E isto faz com que sintam nas costas um peso redobrado de responsabilidade de fazerem mais pela sua cidade.
A vontade de tornarem a cidade e o concelho relevantes no panorama nacional faz com que queiram ser únicos e melhores todos os dias. Terá sido isto o principal motor para a dinâmica associativa que a cidade sempre viveu. Multiplicam-se as associações culturais, recreativas e desportivas da cidade. Existem em praticamente todas as freguesias do concelho e foi delas que partiu uma parte significativa dos eventos que mais marcaram Guimarães durante muitos anos. Cinema em noites de Verão, Guimarães Jazz ou Festivais de Gil Vicente são exemplos maiores da dinâmica que falo.
Na música, desde que nasci que conheço bandas de Guimarães. A cena musical vimaranense sempre teve grupos que todos os alunos das escolas secundárias conhecem. Não conhecem só: são fãs, cantam as letras (quando as há) e fazem de amigos, ídolos e cabeças de cartaz das organizações locais.
Infelizmente, nem sempre este movimento foi acompanhado pela capacidade e/ou a vontade de o fazer para fora de portas. Parte dos grupos com que cresci, apesar de serem referência em Guimarães, tiveram dificuldades em tornar-se figuras nacionais.
Hoje os tempos são outros e trazem uma esperança redobrada. As associações rejuvenesceram, as condições de aprendizagem multiplicaram-se, o mercado da música facilitou a propagação e, principalmente, a cidade abriu as portas e as mentalidades.
Afinal de contas, somos uma cidade Património da Humanidade, e fomos durante um ano Capital Europeia da Cultura. Um evento que deixou marcas indeléveis na esperança, visão e ambição, que dificilmente desaparecerão daqueles que cá moram e produzem.
Quanto mais não seja, porque os mais críticos dos resultados da ressaca pós 2012, sentiram a obrigação e o tal peso da responsabilidade, de fazerem mais por Guimarães.
Vejo hoje, com uma esperança de que não me lembro de ter, o aparecimento de uma geração de músicos, produtores e promotores vimaranenses, capacitados pelos conhecimentos adquiridos, dotados de uma ambição que os tempos trouxeram e dominadores das novas tecnologias com que a música se propaga, a fazerem algo de realmente relevante.
Conhecem e fazem boa música. Dominam os instrumentos e a arte de os juntar em sons que acrescentem e não apenas reproduzam. Organizam-se e juntam energias na produção de festivais, festas e concertos. Fazem do ócio forma de vida, mas com talento, capacidade e muito trabalho.
Seja esta geração capaz de perdurar e afirmar-se. Serem o ócio que os tempos dos mercados precisam para contrabalançar. Esteja cá o Ócio para os acompanhar.