Nas últimas semanas foram apresentados os mais recentes números de duas publicações científicas vimaranenses. Destinado a um nicho específico de leitores, e apesar de terem sido noticiados pela generalidade dos meios de comunicação locais, estas duas publicações podem ter passado despercebidas à generalidade dos vimaranenses, mas constituem elementos fundamentais para a memória futura de Guimarães.
A 27 de Janeiro, nas instalações do Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, foi apresentado publicamente o mais recente volume do Boletim de Trabalhos Históricos. Fundado em 1933, pela figura de Alfredo Pimenta, este Boletim tem servido essencialmente para dar a conhecer e explorar o espólio da própria instituição, com documentos de relevo a nível local e nacional. Em concreto, o volume referente a 2016, centrou a atenção ao surgimento e desenvolvimento do fenómeno cinematográfico em Guimarães, dando seguimento à exposição que a mesma instituição promoveu no segundo semestre de 2015, intitulada Cinema: a invenção de um olhar.
Um mês mais tarde, a 23 de Fevereiro, foi a vez da Sociedade Martins Sarmento lançar o mais recente número da Revista de Guimarães, publicação cujo primeiro número data de 1884 e que se tornou uma referência cultural e científica para a cidade e o país. O número duplo (122-123, referentes aos anos de 2012/2013) é dedicado à multifacetada figura de João de Meira (1881-1913), um ilustre vimaranense que apesar de desaparecer precocemente deixou um legado artístico, intelectual, cultural e cívico surpreendente. Este número da Revista também dava seguimento a uma sessão evocativa do centenário do seu desaparecimento realizada a 30 de Novembro de 2013 na sede da Sociedade Martins Sarmento.
Em comum, estes dois volumes constituem importantes repositórios da história vimaranense, contribuindo decisivamente para a construção e consolidação da memória colectiva sobre a cidade e seus arredores, e são excelentes cartões de visita para o trabalho de excelência que se desenvolve nessas duas instituições. O Arquivo Municipal Alfredo Pimenta e a Sociedade Martins Sarmento são duas casas da memória vimaranense que, muitas vezes de forma discreta e lutando com vários condicionalismos de vária ordem, tem cumprido um papel de documentar e fazer a história de Guimarães.
Com o rigor crítico que se exige neste tipo de instituições científicas, estas instituições estão longe de uma prática hagiográfica e messiânica recorrente em instituições similares com um perfil mais direccionado para a história local, possibilitando não só o acesso às fontes, depositadas nos seus espólios significativos, mas também oferecendo leituras e interpretações contextualizadas sobre o passado de Guimarães. Os dois volumes recentemente publicados são o melhor exemplo desse serviço público oferecido pelas instituições em causa e que permitem não só guardar como, sobretudo, avivar a memória.