DescentraCidade?

Em final de Outubro de 2015, a Câmara Municipal de Guimarães anunciava publicamente o programa ExcentriCidade, um projecto de descentralização cultural para várias zonas do concelho. De muito positivo, registei toda a filosofia do programa, apostando numa programação cultural fora do habitual burgo, mas também a vontade de envolver e formar agentes locais e de recuperar ou valorizar espaços culturais em algumas zonas “periféricas” do concelho.

Excentricidades

Desconfiei, e não gostei nada mesmo, do nome escolhido: o substantivo feminino escolhido para baptizar o programa remete para um “acto extravagente” ou “algo excêntrico”. Ora, este programa não deveria ser visto como algo extravagante ou excêntrico, mas como algo natural ou comum.

Também discordei da estratégia operacional, de criar cinco pólos para desenvolver o programa (Ronfe, Moreira de Cónegos, São Torcato, Briteiros e Caldelas), o que, na realidade, não estaria a descentralizar, mas antes a criar novas centralidades, periféricas é certo, mas que continuavam a excluir a maioria da população do concelho que não vive nesses cinco pólos.

O programa já completou um ano e três meses de vida, tendo acumulado algumas dezenas de eventos culturais. Por vezes, a voz popular expressa em comentários nas redes sociais, muitas vezes inflamados e pouco esclarecido, não parece querer compreender uma ou outra iniciativa que tenha corrido pior.

O balanço parece francamente positivo, mas é necessário continuar a apostar neste programa. O investimento, financeiro e político, é crucial para aumentar a oferta em termos geográficos e para consolidar o projecto como uma programação cultural diferenciada e descentralizada. O programa está apenas no início e é necessário dar-lhe todas as condições para que não seja apenas uma iniciativa simbólica “para inglês ver”.

A descentralização cultural não pode ser só uma bandeira erguida pelos vimaranenses contra Lisboa e o Porto, pelo tratamento desigual das congéneres Capitais Europeias da Cultura, mas uma política efectiva de democratização no acesso à cultura dentro do próprio concelho. O programa ExcentriCidade é um bom passo de partida, mas não poderá ser só isso. Por outro lado, a promessa de descentralização cultural não poderá resumir-se ao ExcentriCidade, mas ter neste apenas uma face mais visível e mediática que sirva de “tubo de ensaio” para atividades diferenciadas em função dos diversos públicos-alvo.