Wayne McGregor é uma superestrela

Foto Ravi Deepres

Foto Ravi Deepres

Há uns meses, as páginas do facebook encheram-se do novo videoclip dos Chemical Brothers, “Wide Open”. A voz para o novo single da dupla britânica era emprestada por Beck e o corpo que dançava era o da bailarina e actriz Sonoya Mizuno. Aquilo em que menos gente terá reparado foi no nome do responsável por aquele movimento. Era Wayne McGregor, o coreógrafo que este sábado se estreia em Portugal, trazendo “Átomos” ao Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. As colaborações fora do território da dança contemporânea são um exemplo de como o criador britânico é hoje uma autêntica superestrela.

A colaboração com os Chemical Brothers não foi a primeira incursão do McGregor por outras disciplinas artísticas. Há cinco anos, foi ele quem pôr o vocalista dos Radiohead, Tom Yorke, a dançar no vídeo de “Lotus Flower”, o primeiro avanço de “King of Limbs”. No cinema, foi director de movimento de “Harry Potter e o Cálice de Fogo” (2005) e de “A Lenda de Tarzan”, que sairá este ano. E também assinou a sequência de abertura dos Brit Awards deste ano, em Fevereiro.

Mesmo nos seus trabalhos como coreógrafo têm sido habituais as colaborações com nomes facilmente reconhecidos por um público menos atento à dança, sobretudo na área da música. Por exemplo, colaborou com Jack White na criação de “Chroma” (2006) e com Jamie xx em “Tree of Codes” (2015). Estas colaborações explicam a sua notoriedade internacional e o facto de ser tornado num nome grande capaz de encher salas em qualquer ponto do mundo. Mas não explicam como McGregor chegou até aqui,

O coreógrafo britânico ganhou a visibilidade que justifica alguns destes convites por mérito próprio. Desde os anos 1990 que se afirmou como um director preciso, capaz de construir uma linguagem própria e de construir, ano após anos, criações marcantes que lhe granjearam o respeito do público do Reino Unido, primeiro, e da Europa continental, mais tarde. Mas Wayne McGregor nunca tinha estado em Portugal. Ainda que a programação nacional na dança tenha sido capaz de atrair, nas últimas décadas, alguns dos principais criadores internacionais desta disciplina – alguns dos quais, como Pina Bausch, construíram mesmo uma relação de cumplicidade com o público português.

A estreia nos palcos nacionais acontece este sábado, em Guimarães. Ao grande auditório do Centro Cultural Vila Flor, a companhia de Wayne McGregor apresenta “Átomos”, um espectáculo estreado originalmente em Outubro de 2013 e que ainda está em circulação internacional, com música original da dupla de música ambiental A Winged Victory For The Sullen.

Nesta peça, McGregor acentua a indagação que tem repetido nos últimos anos em torno da relação do corpo com a tecnologia. A criação de “Átomos” combinou dados biométricos recolhidos e trabalhados por um grupo de investigadores científicos, com movimentos de dança virtuais. Em palco, filme, som, luz e também o corpo são atomizados. Mas, apesar de todo o aparato tecnológico é o corpo que assume um papel determinante, sublinhando aquele que tem sido um dos aforismos mais vezes repetidos nos últimos anos pelo coreógrafo: “o corpo é uma das coisas mais literatas que temos”.