O Carnaval dos Animais de Camille Saint-Saëns foi o pretexto para a companhia Nacional de Bailado convidar Victor Hugo Pontes para criar. Não é a primeira vez que o coreógrafo vimaranense apresenta uma peça com inspiração animalesca. Em 2013 levou a palco o “Zoo”, sendo por isso já alguma a sua experiência em coreografar comportamentos que se inspiram na natureza animal . Mas a junção deste estilo mais contemporâneo e livre aliada à técnica clássica da Companhia Nacional de Bailado é, no mínimo, sensacional.
A tridimensionalidade é elemento fundamental e estruturante desta criação. Como já é habitual, Victor Hugo Pontes criou um espaço a três eixos, com uma plataforma que em algo se assemelha a um carrossel, iluminada por uma estrutura que nos recorda uma qualquer feira popular de infância.
O palco tem uma configuração algo distante do que ordinariamente é esperado num espectáculo de dança. E desde o momento em que os 32 bailarinos pisam, com uma postura em que em nada se assemelham a um comportamento humano, conseguimos denotar que esta é uma performance em que prevalece o compromisso com a personagem. Durante uma hora e meia, os bailarinos abandonam a concepção do que é ser humano e personificam o comportamento animal até ao mais ínfimo pormenor, desde a forma como se movimentam no palco até à própria respiração.
Victor Hugo Pontes apresenta assim um novo registo, com uma coreografia de traços clássicos e baléticos, que contrasta com o comportamento animalesco que os bailarinos assumem em palco. Um movimento muito rígido, sincronizado, que respeita a peça original.
Mas não só pelo movimento podemos pontuar o último trabalho da Companhia Nacional de Bailado – na composição original de Saint-Saëns, O Carnaval dos Animais tem somente 20 minutos, cabendo ao coreógrafo transformar esta peça num espectáculo completo. A solução foi partir das músicas originais e pedir a 12 compositores portugueses que compusessem temas originais, que completassem a obra de Saint-Saëns e que respeitassem o animal que lhes fosse atribuído. Cada compositor criou assim uma música, mediante o animal que lhe foi atribuído, sem ter qualquer contacto com as criações dos restantes compositores. Apesar desta “falta de contacto”, o resultado final é extraordinariamente coeso.