O tempo é sem dúvida uma questão nos preocupa. A noção de passado e futuro que culminam num presente demasiado fugaz para ser percepcionado ou apreciado. O coreógrafo João Fiadeiro problematiza esta questão no seu mais recente trabalho “O que fazer daqui para trás”, apresentado na passada quarta-feira, no festival Dias da Dança, no Porto. Esta é uma performance que nos deixa a reflectir sobre a efemeridade do presente e da nossa impotência quanto a isso.
Os intérpretes, numa autêntica maratona, vão subindo a palco, partilhando narrativas que, por viverem num mesmo presente, são representadas de uma forma quase fragmentada, interrompendo-se antes mesmo de conseguirem terminá-las. A respiração ofegante é o compasso base desta performance, que se despiu de qualquer artifício cénico para passar uma simples ideia: não temos tempo.
O papel do corpo e a perenidade do corpo e dos corpos contrasta com o aspecto mais transitivo que o presente encerra, sendo o movimento cíclico dos intérpretes uma ferramenta quase mais importante do que as palavras que compõe o texto proferido tão sofregamente – os performers trazem a palco monólogos que tratam um pouco de tudo e de nada, questões profundamente filosóficas e discussões sobre a vida de quem está sentado na esplanada do café da esquina.
“Tudo está interligado por um fio” é uma das frases proferidas e talvez a que melhor descreve esta criação e que melhor transmite o seu propósito. E é com esta reflexão que João Fiadeiro nos deixa: a constante corrida contra tempo e o tempo que é interrompido por vários acontecimentos, que num abrir e fechar de olhos já são passado.