Se há coisa que admiro nos povos da Europa central e do norte é a forma como usufruem dos espaços verdes e dos equipamentos culturais. É certo e sabido que Portugal não tem uma cultura de cultura mas os portugueses abusam dos shoppings de uma forma verdadeiramente deprimente.
Em vez de domingos com piqueniques no Parque da Ponte, passeios no Museu dos Biscaínhos ou visitas às Termas Romanas da Cividade, o que vemos são filas desmesuradas para intermináveis tardes de ócio no shopping. Feitas as contas, a factura paga-se com ar saturado de tudo e cabeça cheia de nada. A confusão das catedrais do consumo é tamanha que o tempo que deveria ser de descanso acaba, invariavelmente, convertido em martírio.
Seja como for, a verdade é que não existirá mudança de atitudes e comportamentos em relação à cultura sem políticas ativas de promoção da cultura.
Antes de tudo, talvez valesse a pena voltarmos a ponderar o encerramento dos grandes supermercados aos domingos e feriados tendo, como contrapartida, o alargamento do horário do comércio tradicional de segunda a sábado. Ganhavam as cidades, ganhavam as pessoas e ganhava a economia.
Enquanto isso não acontece, há que pensar em eliminar as taxas de entrada nos Museus, Parques e Monumentos, promovendo o consumo desses “bens” por todos os portugueses. Uma vez que a simples abolição não é desejável nem possível tendo em conta os proveitos que nos chegam dos turistas estrangeiros, uma boa solução passa pela conversão em crédito fiscais (a abater no IRS) do valor despendido com bilhetes para entrada em equipamentos ecológicos e culturais.
Num tempo em que tanto nos lamentamos pela falta de visão estratégica do país, convém lembrar que não há governantes com visão onde o povo caminha nas trevas.