5 perguntas a Bruno Martins, director do festival de novo circo Vaudeville Rendez-Vous, que decorre de 15 a 23 de Julho em Braga, Famalicão e Guimarães.
Ócio – Como nasceu este festival?
Bruno Martins – Este festival nasceu de uma vontade muito grande de trabalhar estas linguagens ligadas ao circo e à fisicalidade do intérprete. Primeiro que tudo, somos [o Teatro da Didascália, estrutura que organiza o Vaudeville Rendez-Vous] uma companhia de teatro e o trabalhamos que realizamos na nossa criação passa por muito por esta ligação ao corpo, que se cruza muitas vezes com a manipulação de objectos e com o circo. Enquanto estrutura artística posicionada em Famalicão decidimos que seria interessante apostar em criar um festival que tivesse ligação ao nosso trabalho como criadores, mas também que permitisse a vinda de outros intérpretes e outras companhias e aliámos a isto um trabalho ligado à rua. O festival surgiu também de uma necessidade que sentimos há algum tempo, nesta região, mas também a nível nacional, de contribuir para mudar uma realidade: este tipo de linguagens tem pouca expressão. A programação de circo é praticamente inexistente e há muito muito pouco espaço para as linguagens do circo e das artes de rua.
O alargamento a três cidades estava planeado desde o início ou foi uma oportunidade?
Foi uma oportunidade que surgiu e que nos pareceu muito interessante. O circo é, na sua génese, uma linguagem performativa que viaja de terra em terra. Esta co-produção nas três cidades permite-nos alargar o festival e também explorar isso. Algumas das criações que programamos para este ano vão viajar de cidade em cidade e esse é um paralelismo interessante.
Porquê um festival de rua?
A rua era um território que nos apetecia muito trabalhar. Na nossa programação, quer neste festival, quer no outro que realizamos, Contos d’Avó, queremos trabalhar locais não convencionais. O espaço público é uma espaço que nos permite ter paisagens muito variadas e no qual podemos desenvolver a ligação do circo e das artes de rua. Também pela altura em que o festival acontece – já a entrar no Verão, altura em que as pessoas estão mais predispostas a usufruir de espaços ao ar livre – fazia sentido. O festival acaba também por tentar criar pontes entre o público que está na rua e os espaços convencionais. Depois desta experiência, estes espectadores podem depois ter interesse, ao longo do ano, em dirigirem aos teatros para verem espetáculos.
Estar em três cidades durante nove dias implica um esforço logístico grande. Como geriram isso?
Passar de uma para três cidades é basicamente triplicar o esforço. Estamos a organizar o festival há sensivelmente um ano porque sentimos necessidade de começar a preparar as coisas muito mais cedo do que aconteceu nos dois primeiros anos. Mas esse tempo também nos permitiu ir conhecendo melhor as três cidades e os seus espaços, a perceber as dinâmicas próprias de cada cidade. Isso faz com que o trabalho logístico se vá tornando em algo mais eficaz e também nos permite ter novas ideias para futuras edições.
O que significa o reconhecimento com o selo da Europe for Festival/Festival for Europe (EFFE)?
Portugal teve uma grande participação nesta primeira edição do EFFE e isso nem foi uma grande novidade, porque temos de facto muitos festivais e com muita qualidade. Esse selo num primeiro momento é bom – é sempre bom sermos reconhecidos por um júri – e permite diferenciar o festival, porque o EFFE distingue festivais que não são simples mostras ou animações de cidade, mas que pensem na produção artística, nos apoios à criação e nas formas como se relaciona com os artistas para fomentar a circulação internacional. E isso é aquilo que o nosso festival faz, tentando promover não só essa circulação, mas também a criação, com as co-produções que fazemos e que queremos potenciar cada vez mais nas próximas edições, bem como os showcases e debates que também fazem parte do programa.