O ritmo da cidade minhota começa cedo. Dia 2, pela manhã, os sinos batem e já há na rua quem empregue a veste branca. Dão assim as boas-vindas as festas que abrem setembro com 90 eventos. Escolha não faltou para quem apareceu. Da música às artes performativas, as noites brancas de Braga chamaram milhares às ruas.
Na Avenida Central, um esqueleto gigante conduzido como uma marioneta; na Avenida da Liberdade, a instalação “Mahjong” feita com caixas de fruta atraiu os mais curiosos. Nas ruelas, mariachi, palhaços e um violino que não pára de tocar. E por todo o lado, as rulotes dos churros, dos ‘finos’ e o cheiro das pipocas ainda a fazer. Nem todos vão para o mesmo sítio, porque há muito por onde passar. Rua abaixo ou rua acima, quanto mais tarde fica, mais difícil é passar sem ter que pedir “com licença”.
E para além dos museus abertos, alguns até às 00h00, ainda houve os concertos. O momento mais aguardado da noite de sexta-feira fez milhares descerem a cidade até à Praça do Município, em frente à Câmara Municipal, para escutar Carminho. A grande plateia de branco não fez a fadista tremer. O som da guitarra portuguesa de Luís Guerreiro irrompeu e Carminho mostrou a sua voz grave com “Lágrimas do Céu”, no meio do palco azul. Entre os temas cantados, “Chuva no Mar”, “Saia Rodada” e “A Bia da Mouraria” não faltaram. E ainda houve tempo para um dueto com Miguel Araújo ao som de “Ventura”.
O músico e compositor portista entrou de seguida com a sua banda, no palco principal, e introduziu um ritmo pop-rock à noite, que começou com “Fizz Limão” e “Capitão Fantástico”. Os covers também não faltaram à primeira noite de concertos, entre os quais, “Like a rolling stone”, original de Bob Dylan, e “Dancing Queen” dos Abba.
Na Avenida Central, os Boogarins fizeram as honras da casa com o rock psicadélico junto de uma plateia jovem, que trocou a música portuguesa pela brasileira, acompanhada por copos de cerveja na mão. E a festa continuou da mesma forma com a música eletrónica de Midnight, depois da 01h00.
“Eu fiz o Mochilão na América Latina”, exposição patente na antiga estação de caminhos de ferro da cidade, e o BUM – Braga Urban Market foram os primeiros eventos a abrir o dia 3. Voltaram as animações itinerantes à rua, voltaram os museus e edifícios públicos a abrir portas para quem lá quisesse entrar. A Bracara Augusta vestiu-se de sons, com as orquestras que andaram pela cidade, e as crianças voltaram de pipoca em punho para mais um dia.
À noite, do gin em copo de plástico ao típico ‘fino’, a música regressou. O palco principal abriu com a contagiante energia dos HMB. O soul e R&B desdobrou-se em “Dia D”, “O amor é assim” e “Não me deixes partir”. Jorge Palma e Sérgio Godinho, a dupla da noite, de guitarra ao peito, trouxeram “Lá em baixo”. Mais tarde, chegaram os originais de Jorge Palma com “Frágil” e “Deixa-me rir”.
Por volta das 00h00, os Linda Martini subiram ao palco gnration@. Depois de apresentar “Dez tostões” à multidão de jovens, chegou Sirumba, lançado este ano. E, após terem passado um pouco por todos os álbuns, a banda deixou o palco da Avenida Central para o dj Branko, um dos cofundadores dos Buraka Som Sistema.
No palco principal, já se faziam ouvir os The Gift. A banda, que comemorou 20 anos de carreira no ano passado, aproveitou a noite para fazer um apanhado de todos os seus sucessos e de alguns dos temas com os quais iniciou a sua carreira. “Ok! Do You Want Something Simple?”, “Clássico”, “Driving you slow” ou “Singles” fizeram a plateia de branco tirar os pés de chão para comemorar a 20 tour. Entre os momentos marcantes da noite, Sónia Tavares não resistiu a começar o concerto literalmente no meio público.
O chileno Matias Aguayo foi o artista escolhido para fechar o festival bracarense. O músico de eletrónica entrou às 03h00 e fez rolar os últimos copos de cerveja no recinto do palco gnration@.
A festa, que continuou durante o dia 4 com as instalações artísticas e visitas gratuitas, acabou com o som característico da ‘cidade dos arcebispos’. Por volta das 19h30 do mesmo dia, os sinos das igrejas do centro histórico tocaram, em modo de concerto, para anunciar o fecho do festival branco.