O relatório dos impactos sócio-económicos da Guimarães 2012 apresentado na quinta-feira pela Universidade do Minho é a peça que faltava para a avaliação que é possível fazer neste momento do evento do ano passado. Sendo certo que os principais efeitos desejados só podem ser medidos a médio prazo (2020 é há muito o ano de que todos falam), os indicadores conhecidos validam o sucesso que fomos medindo ao longo do ano.
Ainda que tenha tido problemas e pudesse, em algumas áreas, ter sido melhor executada, a Capital Europeia da Cultura foi, de facto, um momento extraordinário, que cumpriu a generalidade dos seus propósitos e que deixa uma marca indelével na cidade e nos vimaranenses. Valorizo menos o impacto de 85 milhões de euros no PIB – que é, como bem lembrou João Teixeira Lopes, um mero exercício de projecção, em que os economistas são useiros em falhar – do que as conclusões relativas aos impactos sociais. E estes mostram uma penetração da CEC nas áreas rurais do concelho que são os seu principal legado.
É tempo, agora, de pensarmos no futuro. E o futuro não pode ser muito diferente do que foi este passado recente. Guimarães encontrou a sua vocação nova e é na cultura que tem que continuar a apostar para ser uma cidade relevante a nível nacional e europeu. Como sublinhou lembrava o secretário de Estado da Cultura, Barreto Xavier, durante a conferência “As cidades 2020” que decorreu neste fim-de-semana no CCVF, de nada serve a uma cidade continuar a encontrar sempre novos motes para o seu desenvolvimento.
O futuro de Guimarães deve ser “multicentrado” – foi esta a palavra usada pelo governante – não descurando a indústria, o comércio, o turismo e a investigação científica. Mas com a cultura como principio de coesão do modelo de desenvolvimento de Guimarães. É esta a discussão que importa. E foi, em boa medida, a discussão tida neste fim-de-semana na conferência organizada pela Guimarães 2012. Estranho por isso a ausência dos candidatos à presidência de Câmara nas eleições de Setembro (apenas por lá vi o cabeça de lista do Bloco de Esquerda, no segundo dia).
Se lá tivessem estado, tinham ouvido Barreto Xavier deixar um recado que é altamente relevante no momento que vivemos. “Seria um erro que Guimarães ignorasse este elemento matricial”, que é a cultura. Concordo com absoluto com o secretário de Estado e defendo que este devia ser um aspecto central da discussão sobre a nossa vida colectiva, enquanto concelho, no momento pós-CEC e pré-eleitoral.
É por isso, no mínimo, estranho, que até ao momento pouco ou nada se tenha ouvido falar sobre Cultura nas intervenções dos candidatos. Que mal lhes conheçamos posicionamento sobre este papel central da aposta cultural na vida vimaranense. E que as poucas intervenções de que houve eco nesta matéria sejam motivo de alarme e preocupação.