No salão de entrada da Fábrica Asa, numa construção imponente de tábuas e barrotes aparafusados segundo uma ideia estética mais ou menos conseguida, querendo lembrar uma catedral ou uma mesquita com um coração negro destinado à celebração mística das palavras, Kengo Kuma esteve ontem em Guimarães a falar da sua arquitectura de respeito à Natureza. Começou por falar da força destrutiva da Natureza, onde a fragilidade do que é construído pelo ser humano, e do próprio ser humano só consegue alguma ideia de perenidade ao assumir, paradoxalmente, o caráter transitório dos nossos esforços. A ideia de arquitetura expressa por Kengo Kuma, derivando vagamente de uma concepção existencialista desenvolvida por Heidegger no seu “Habitar, construir e Pensar” vai para lá do respeito ao local para uma concepção ainda mais reverente para com os acidentes naturais, vistos na sua ambivalente compleição de resistência e acolhimento, seja no desnível dos terrenos, obsessivamente mantidos , seja na procura da horizontalidade da água, segundo o modelo, deixando por Bruno Taut na sua passagem pelo Japão depois da ascensão de Hitler ao poder. Ouvir Kengo Kuma é partilhar do profundo respeito pelo poder do lugar, mas também do profundo respeito pelos materiais, desde a madeira que encaixa sem a violência do metal à leveza do coração das pedras. Um exemplo de grandeza e sensibilidade, sem reinventar a natureza – amando-a, apenas.