Tem sido motivo de troça e partilha (parte:ilha) no facebook, a entrevista feita ao artista João Ricardo Oliveira sobre a sua instalação Vi:Ela Sentada.
No entanto, e passado o momento cómico que poderia fazer parte dum qualquer episódio dos Monty Python, há um aspecto da relação arte-cultura que me parece importante abordar. Há de facto um discurso muito diferente entre os artistas e os agentes culturais.
Não é exclusivo do João Ricardo Oliveira (esquecendo o diospiro e as lampreias) um discurso ambíguo, muito virado para o irracional, para o instinto criativo ou a mera aleatoriedade na criação de obras artísticas (basta ver os filmes de João Nicolau ou as “explicações” de David Lynch para o Estrada Perdida ou Mulholland Drive, por exemplo).
Já o agente cultural funciona como uma espécie de tradutor que tenta contextualizar a obra artística para o público-alvo. Há quem diga que isto se pode tornar uma verdadeira arte, e a sinopse feita pela Guimarães 2012 ao projecto Vi:Ela Sentada é um dos melhores esforços nesse sentido (os textos de Ivo Martins para o Guimarães Jazz também).
Mas há duas questões que, na minha opinião, se não têm uma resposta simples, merecem pelo menos alguma reflexão:
1. Afinal, o que é mais importante? A obra ou o conceito? Ou uma coisa não consegue viver sem a outra?
2. O que se passa nestas reuniões preparatórias entre artistas e produtores culturais? Alguém pode gravar e disponibilizar na net?
PS: Mesmo no meio do discurso alucinado do artista parece-me mais realista e interessante o objectivo dele, o de confundir o público, do que a ideia transmitida pela sinopse da Guimarães 2012, a saber… “O conteúdo e objetivo da VI:ELA SENTADA é motivar os habitantes daquele quarteirão para o desenvolvimento da sensibilidade, do sentido crítico, da mudança de atitudes e de valores em torno do espaço envolvente. Levá-los à redescoberta do prazer de aí viver e a dar testemunho criativo da sua história.” É muito por esta tentativa de atribuir a todo e qualquer objecto artístico uma componente meramente pedagógica que torna a cultura a principal inimiga da arte, como insinua Alberto Pimenta no seu ensaio “A magia que tira os pecados do mundo”.