À espera que o céu lhe caia em cima da cabeça

“Sometimes I think I have felt everything I`m ever gonna feel. And from here on out, I`m not gonna feel anything new. Just lesser versions of what I´ve already felt.” Theodore – Her
O que o mantém vivo, mecanicamente falando, é o esforço e preocupação constante de manter o ar dentro de si, num inspiro único, do início e para sempre.
O corpo que transporta, de vestes e peles, tal como o conhecemos, não tem mais nada lá dentro, não tem recheio, sustenta-se do ar que o preenche, ansioso para ser expirado.
Ombros contraídos, bochechas cheias, olhos cansados e sem brilho algum, desmotivado, interrogando-se se valerá a pena.
Se o libertar, ao ar, é porque não acredita num motivo, e murcha.
O motivo terá que ser uma experiência completamente nova, desconhecida para ele, fora da sua zona de conforto, que o faça sentir perdido num lugar e tempo, com medo mas confiante e forte, vivo de tal forma que lhe faça novamente os olhos brilhar.
Ou isso, ou entende o que lhe espera, aceita e satisfaz-se com réplicas menos potentes daquilo que já viveu. Mas isso é tão aterrador que ainda lhe tira mais o fôlego.
Para já, encontra-se à espera que o céu lhe caia em cima da cabeça, à procura de uma explicação para o presente e com esperança naquilo que o futuro lhe possa trazer.
Ou isso, ou realmente compreende que não haverá de facto mais nada a não ser o passado no presente.
Mas na verdade, ultrapassada a chata fase de barganha – ainda que difícil – aceitando tal verdade, tudo poderá vir a correr bem, e melhor do que ele esperava. Bem, pode-se dizer até que depois do luto, o êxtase.
Numa outra perspectiva que não a anterior, tudo faz mais sentido, e são as mesmas coisas que tem e que vê, que antes tínha e que via, mas captadas de outra forma. Simplesmente, após uma comunicação introspectiva, apercebe-se que aquilo que antes não gostava lhe pode fazer radiante, simplesmente gostando.
A sensação de adrenalina que anteriormente procurava, de desconhecido, transforma-se em conforto e satisfação por estar bem onde está e como está, sem querer mudar rigorosamente nada – apenas continuar assim… apaixonado, tonto, numa linha de felicidade constante e paralela.
De repente, tudo ficou com mais cor.