O disco novo de Rui Carvalho foi apresentado em concerto, integrado no programa do Westway Lab, em Guimarães. Filho da Mãe lançou o disco Mergulho no início de Março de 2016, sendo este o seu terceiro disco sob esta designação.
Rui Carvalho começou o concerto de sábado, 16 de Março, no CC Vila Flor, da mesma forma que começa o disco, atacando as cordas de nylon num turbilhão de efeitos caleidoscópios. Este foi o “Primeiro Mergulho”, num concerto inteiro em apneia.
Músico e guitarra acústica ocupam o centro do palco. O despojamento sónico faz com que o arrebatamento seja tão intenso que faz com que uma guitarra apenas seja suficiente. A música de câmara tem o encanto de poder transformar a simplicidade em arrebatamento e beleza, mesmo que poderosa e violenta, minimizando a combinação instrumental.
Mergulho foi gravado aqui perto, no Mosteiro de Rendufe, em Amares. Rui Carvalho registou aí o poder irascível dos seus dedos no dedilhar da guitarra, que agora reconhecemos no palco de Guimarães. No recato do mosteiro, Filho da Mãe enlevou-se na reverberação natural da pedra velha e compôs um disco acústico, numa acepção mais completa do termo.
Outros guitarristas portugueses já procuraram semelhante recolhimento, em busca de uma inspiração que os sítios, os lugares e alguns edifícios conseguem prover, levando-os a transpor para as suas composições e para os seus discos as vibrações próprias de cada lugar. Foi assim, por exemplo, com Grutera, que gravou o disco Sur Lie no Herdade do Esporão. O próprio Rui Carvalho gravou parte do seu disco anterior, Cabeça, de 2013, no Convento da Saudação, em Montemor-o-Novo e numa quinta localizada no Gerês.
Curiosa também é a tendência de um grupo de guitarristas que começaram pelo rock e agora procuram a sua essência como guitarristas e como compositores. Além de Guilherme Efe, já referido como Grutera, que começou por tocar heavy metal; Peixe, começou no funk-rock dos Ornatos Violeta e agora é vê-lo a solo com a sua guitarrinha Andy Manson. Rui Carvalho começou no punk rock dos If Lucy Fell e passou para o registo acústico com os Asneira.
Filho da Mãe é, portanto, um resultado de síntese, que chega ao terceiro disco num processo que se está a desenvolver e Mergulho é disso um excelente testemunho, tanto em disco, como ao vivo. O concerto em Guimarães foi curto mas eficiente, ajudado por um jogo de luzes eficaz. Passada uma hora volta-se à tona para voltar a inspirar. O regresso, como o acordar, embrulha-nos por vezes numa vontade estranha de voltar a viajar, de voltar a sonhar. Neste caso, a vontade era de voltar a mergulhar.