Tim Hecker: o homem sombra

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Eram grandes as expectativas para ver o concerto de Tim Hecker. A trajectória ascendente do músico canadiano colocou-o num patamar de relevo, no que respeita à música electrónica. Os três últimos discos, em particular, desenhavam uma espiral ascendente, ao mesmo tempo que se instituía um perfil distintivo da música de Tim Hecker – o que, por vezes não não é tarefa fácil, quando se trata de ambient music, em que é exigido um elevado grau de abstração a quem ouve.

Por isso, a data que Tim Hecker marcou no gnration, em Braga (a 9 de Maio), era há muito aguardada. Esta era uma das duas datas marcadas para Portugal – a outra seria em Lisboa, no Teatro Maria Matos, no dia seguinte. Todo o interesse em volta deste concerto fora aguçado pelo lançamento do último disco do músico – Love Streams e pelos textos que sobre ele se produziram, confirmando Hecker como uma das figuras mais aclamadas da música feita partir da manipulação sonora.

No entanto, não é possível afirmar, com plena propriedade, que as pessoas que encheram a black box do gnration tenham assistido a um concerto. Pode-se afirmar, antes, que se tratou de um acontecimento (um happening, como agora se diz) – uma centena de pessoas, fechadas numa sala escura, saturada por uma bruma induzida, a ouvir sons cuja origem autoral poderia ser facilmente reconhecível. Pouco mais se vislumbrou além dos 72 pontos de luz (sim, houve tempo para os contar) praticamente imutáveis, do principio ao fim do concerto.

Um concerto é sempre uma experiência. Mas um concerto, pelo menos numa leitura convencional do termo, implica uma interacção entre os artistas, que se apresentam, e o público, que assiste. A experiência de estar numa sala escura com P.A. a debitar som pode ser várias coisas, mas dificilmente se pode dizer que seja um concerto. Poder-se-á fundamentar que a inexistência de artifícios sirva para facilitar a concentração na música, sem haver distracções.

Por assistir a um concerto (por vezes diz-se mesmo ver um concerto) entende-se enxergar o artista ou os artistas. Constatar a forma como se entrega, apreciar o equipamento que usa e, desta forma, os concertos costumam ser um momento de partilha entre os artistas e o seu público. Por não se terem constatado nenhuma destas condições, o “concerto” de Tim Hecker foi uma profunda desilusão. Tal não invalida, contudo, que não se continue a ouvir com gosto os discos deste homem-sombra. O texto termina aqui.