São 21h45. No palco principal os barcelences Alto! aquecem a pequena multidão de curiosos que vai chegando. Atraídos pelas guitarras ruidosas e pelos gemidos sôfregos de João Pimenta, indie rockers de Guimarães e redondezas juntam-se na Praia Fluvial de Barco para a sétima edição do Barco Rock Fest (BRF).
Organizado por gente de tradição rockeira (o Movimento Artístico das Taipas), o Barco é um festival com ambição. Ambição de ser mais e de atrair, a cada ano que passa, público de fora do distrito de Braga. E a pouco e pouco as metas são superadas. “Este ano julgo que conseguimos superar as expectativas”, explica Joana, responsável pela gestão do backstage e detentora dos segredos mais recônditos das bandas do Barco. “Os apoios, como se sabe, são reduzidos. Recebemos ‘zero’ para trabalhar no festival, portanto, é mesmo uma questão de amor à camisola”, frisa a jovem que viu o festival nascer no ano de 2006.
O BRF, organizado em conjunto com a junta de freguesia de Barco, cedo se afirmou como a aposta sincera de quem tem poucos recursos e é apaixonado por música rock. As condições para a sua realização estavam reunidas: por um lado existia a vontade de realizar um festival rock puro e duro e, por outro, a vontade de criar um evento que dinamizasse a freguesia e envolvesse, também, a comunidade local. Assim, surgem apoios como a paróquia de São Cláudio de Barco e os Escuteiros — que de rock, sabem-na toda.
Promissor e descentralizador, o BRF acolhe maioritariamente bandas em início de carreira ou com sede de projecção que aqui encontram espaço para partilhar a sua música com um público jovem, curioso e receptivo. Pelo palco do festival passaram, nas últimas edições, nomes como Slimmy, Sizo, Linda Martini, Mão Morta, Sean Riley & The Slowriders ou mesmo Wraygunn, que cunharam o Barco Rock Fest como “O” festival nortenho das novas bandas rock.
Mas hoje, a noite é também internacional. Depois do rock blues dos Killimanjaro e da energia electrizante dos Alto!, que em dia de aniversário do vocalista cumpriram (e bem) a tarefa, os La La La Ressonance, uma das bandas precursoras da cena rockde Barcelos e uma das poucas bandas experimentais nacionais, abriram caminho para o nome mais aguardado do segundo dia: os nova-iorquinos The Last Internationale.
Visitantes assíduos de terras nacionais, a banda de Edgey, guitarrista de origem portuguesa, e Delila Paz, vocalista exuberante e sensual, apresentou um concerto de fim de tour agitado que fez jus à essência rock ‘n’ roll que os caracteriza. “É sempre bom tocar em Portugal e para mim é especial porque os meus pais são portugueses [de Arcos de Valdevez]”, explicou Edgey aos espectadores que, a pouco e pouco, foram perdendo a timidez. Canções sobre amor, dor, esperança e redenção levantaram a âncora para a viagem que os sesimbrenses Ninja Kore estavam prestes a propor.
Banda marcara pelas sonoridades electrónicas mais agressivas, como o drum and bass e o electro, os Ninja Kore assumiram-se como uma substituição conveniente para os ingleses 2:54, uns ‘Prodigy não Prodigy’ competentes.
Num fim de noite arrebatador que não deixou as cerca de 300 pessoas que rumaram a Barco esmorecer, Ninja Kore inauguraram a primeira mosh BRF de 2012, com a ajuda da ácida abelha, mascote do festival. Poucas horas faltavam para a alvorada, mas ainda houve tempo para uns pezinhos de dança no Palco Fuxia, até os primeiros raios de sol anunciarem o novo dia.
Em colaboração com a Vice (secção Gróia 2012) e 1 minuto Guimarães 2012.