Paredes de Coura: 5 concertos que vamos querer ver

Sleaford Mods

Ninguém o negará: o Paredes de Coura de 2016 será sempre lembrado como o ano ano de LCD Soudsystem. É o grande cabeça de cartaz da edição deste ano e uma das maiores bandas que, na sua longa história, o festival já foi capaz de atrair. Talvez pela importância – e expectativa – desmesurada à volta dos nova-iorquinos liderados por James Murphy, nenhum dos outros cabeças de cartaz da edição deste ano consegue causar entusiasmo.

O cartaz deste ano fica também marcado por muitos regressos ao festival. São disso exemplo os sempre fiáveis Cage the Elephant (passagem pelo festival em 2014,tal como The Oh Sees), Unknown Mortal Orchestra (arrebatadores em2013) ou Tallest Man on Earth, que em 2010 encheu sozinho o palco principal ao final da tarde e agora chega acompanhado de uma banda. Mas, tal como provam os exemplos anteriores, Paredes de Coura é sobretudo o festival que mostra primeira muitas das bandas que ganham depois legiões de fãs em Portugal. Eis as nossas apostas para a edição deste ano:

Cigarrettes after sex – Chegámos até eles por causa da capa do EP homónimo de 2012, com uma das mais gloriosas fotografias de Man Ray. Mas são mais do que uma capa bonita. Cigarrettes after sex são pop negro a lembrar solidão e noites de Inverno. Em disco, a banda de Greg Gonzalez – nascida no Texas e agora estabelecida em Brooklyn, Nova Iorque – soa a melancolia aprimorada. A questão é perceber como pode isto resultar num festival de Verão perante milhares de pessoas. Paredes de Coura já mostrou ser o festival ideal para vermos concertos memoráveis de bandas com registos menos enérgicos do que os que habitualmente ocupam os alinhamentos dos festivais mainstream. Vamos vê-los a fechar o palco secundário no último dia do festival.

Kevin Morby – Nunca se deve dar como morta a grande tradição de cantautores da América do Norte influenciados pela folk. Os early days de Dylan ou Cohen já vão longe, mas é nessa tradição que Kevin Morby (antigo baixista dos Woods e ex-líder dos Babies) começa por inscrever-se. Voz marcante, composições de aparência simples com a guitarra (ou o piano) no centro, e letras de vistas largas e soalheiras. Felizmente, toca no palco principal ao final da tarde do dia 19. Morby vai, porém, mais longe do que as suas reminiscências folk, conjugando arranjos que se afiguram mais complexos a cada audição com uma atitude que reconhecemos de outros cantores e compositores norte-americanos, influenciados pelo lo fi e o indie.

Suuns – Devemos estar sempre atentos à música que sai de Montreal. A cidade canadiana parece ter um ecossistema especial, com o Arcade Fire como principal referência. De lá também saíram Patrick Watson ou Wolf Parade e os Suuns – que tocam no After Hours de Paredes de Coura no dia 18. Na música do quarteto formado em 2007 percebem-se influêcias múltiplas, do krautrock ao pós-punk, passando pela eletrónica e o psicadelismo. São, por isso, capazes de hits directos ao ouvido (e à dança), como 2020, ou de composições mais difíceis de penetrar como as do novo álbum de estúdio “Hold/Still”.

Sleaford Mods – Quando se escreve sobre uma banda há sempre a tentação de referir aquilo a que nos parece que ela soa (vejam-se os textos acima). Ora, os britânicos Sleaord Mods soam… a Sleaford Mods. Há elementos do hip-hop e do spoken word, bem como do dub step ou do punk. Mas tudo isso é embrulhado numa dose de raiva que o vocalista (e letrista) Jason Williamson atira com marcado sotaque britânico, gritando as agruras da vida da classe operária no Reino Unido da austeridade (e agora também do Brexit). Um festival de Verão também pode ser um sítio para ser-se político? Sem dúvida. O duo de Nottingham é um soco no estômago. Para conferir no palco principal, no dia 18, antes de Thee Oh Sees e LCD Soundsystem.

Filho da Mãe e Ricardo Martins – O Paredes de Coura esteve sempre atento ao que de melhor se faz na música portuguesa e este ano não é excepção. Filho da Mãe e Ricardo Martins lançaram um dos grandes discos nacionais do ano, Tormenta expõe a química criativa que se estabeleceu entre os dois desde que esta colaboração começou há pouco mais de um ano. Mas é ao vivo que a energia Rui Carvalho (Filho da Mãe) e Ricardo Martins (dos Papaya, entre outros) se mostra em toda a sua força, como foi possível ver, por exemplo, no Festival para Gente Sentada do ano passado. Em contexto de grande festival (dia 20, a abrir o palco secundário), espera-se que a dupla tenha algo ainda mais especial para mostrar.