A música voltou nos dias 18 e 19 de Novembro com o Cellos Rock, em Barcelos, festival que teve a sua primeira edição em 2002. A organização, da associação Rock na Barragem, que tem a ajuda da produção pela Covilhete na Mão, escolheu o Circulo Católico dos Operários de Barcelos (CCOB), tal como nos anos anteriores, para “spot” oficial da curtição.
Um cartaz sólido fez dois dias de bons concertos. No primeiro, Fugly a abriram a casa. A banda do Porto trouxe o seu novo EP “Morning After” e consequente boa rajada de Garage. O público ainda entrava a medo, mas os Fugly deixaram-nos cómodos no espaço. A seguir chegou Alek Rein, que foi uma bela surpresa, um psicadelismo folk elegante, com uma banda sólida a dar espaço aos desvaneios letristas. Rein veio também apresentar o seu último trabalho “Mirror Lane” e deixou sorrisos em Barcelos.
A banda que fechou a primeira noite, os HHY e The Macumbas, já percorreram muitos palcos deste país. Contudo, em Barcelos, só vimos quatro elementos em palco. Neste conceito, trouxeram um tribalismo experimental que deixou todas as pessoas completamente coladas ao palco. Hipnotizadas algumas. Foi uma boa lufada de minimalismo e sentimentos de um concerto que ninguém sabia como mexer a cabeça no meio de tanto fumo e a luz vermelha do palco. Foi um bom dia, sem concertos geniais mas com concertos seguros.
No segundo dia do Cellos Rock, a chuva apareceu com força. Toda a gente procurava sítios para se abrigar e o salão do CCOB recebe-os com um sorriso. Repara-se num maior número de espectadores do que no dia anterior. Tó Trips (Dead Combo) e João Doce (Wraygunn) abriram o palco com um concerto especial. As guitarras caraterísticas de Tó Trips e as percussões de João Doce, juntaram-se assim no palco para apresentarem o seu trabalho “Sumba”, que sairá a 16 de Abril do próximo ano. Uma bela conjunção de tempos percussivos que mexe o nosso corpo e uma belíssima guitarra a contar histórias. Dois músicos muito talentosos a dar um grande concerto de abertura.
Pista entra a seguir, a banda do Barreiro de rock tropical consegue tocar em todos os palcos e conseguem fazer festa em qualquer um e até apresentaram uma música nova neste concerto. Mais um concerto seguro que fez as pessoas mexer, mas nem todos estavam à espera da força que vinha em seguida.
Na porta diz “esgotado”, vê-se uma fila enorme para entrar. O público queria correr para a frente, guardar o seu lugar para ver Allen Halloween. Mal entraram os beats, as pessoas aliaram-se para um grande último concerto do festival. Vemos todo o tipo de indivíduos a ver: os que gostam de rock, de hip-hop, os que gostam de punk e metal, toda as contraculturas aliadas pelo mesmo movimento de frieza e de dura realidade ditas por Allen e a sua trupe.
O seu hip-hop é tão punk como as bandas que se assumem como tal. A força e a fuga à repressão, os dias difíceis de quem não nasceu em berço de ouro. Ele é a voz de uma geração, com suas letras tão profundas. Os beats sujos e diabólicos, mas com os “kicks” a baterem em todos os lados, associaram-se bem à raiva da voz. “Híbrido” é o nome do seu mais recente trabalho, um álbum muito bem recebido por todos. Contudo neste concerto houve tempo também para temas antigos e, como se viu, plateia estava composta como muitos fãs. Incrível o concerto em imensos sentidos. Halloween tremeu com as paredes todas e soltou um rasto de calor intenso. Deixou um festival com Rock no nome com um dos maiores concertos que já teve.
Uma grande aposta da organização. Apesar da tradição de bandas Rock, apostam em diversas modalidades do mesmo estilo. Tem tido sucesso contudo e, nesta edição em específico, ninguém estava à espera do senhor que chegou até todos. Foi muito “rock”.
Marco Duarte