A promotora Revolve apareceu em 2009, em Guimarães. Desde então tem-se dedicado à apresentação de artistas em território nacional e em 2014 começou também a editar. Sustentada numa lógica independente, apresentou, em 2013, a primeira edição do Mucho Flow que, na edição deste ano, traz a Guimarães: Nite Jewel, Bo Ningen, Blank Mass, entre outros. Falamos com Bruno Abreu, da Revolve, para traçar o percurso do festival.
ÓCIO – A programação deste ano do Mucho Flow resultou num cartaz muito forte. Foi uma questão de oportunidade que permitiu ter algumas destas bandas por cá neste momento ou responde a uma estratégia de crescimento do próprio festival?
Bruno Abreu – É um pouco das duas. Por um lado, conseguimos um apoio financeiro da Câmara Municipal de Guimarães, que nos permitiu trabalhar com mais tempo e com outra qualidade. Por outro lado, à semelhança do que já tem acontecido em anos anteriores, aproveitamos a parceria com o festival Villamanuela – que decorre em Madrid no mesmo fim-de-semana. Isso permitiu-nos ter bandas como Bo Ningen e Naked no cartaz desta quarta edição por exemplo.
Este é o melhor cartaz de sempre do Mucho Flow?
É talvez o que agrupa nomes internacionais mais fortes e o que tem mais artistas Revolve em cartaz (Toulouse, Bruxas/Cobras, Joana Guerra). Se isso o torna o mais forte de sempre, é subjectivo, mas todos os anos programamos o Mucho Flow com um amor ainda maior.
À quarta edição, pensam que o festival atingiu já a sua maturidade?
O Mucho Flow tem acusado algumas dores de crescimento próprias de um festival independente. Tem sido possível consolidar um projecto através de uma aposta mais forte na programação, como se reflecte no programa para 2016. Crescer será o caminho natural quando sentirmos que estão reunidas as condições para isso. A curto prazo gostaríamos de apresentar um cartaz de dois dias.
Qual é a banda ou artista que trazem à edição deste ano que, quando conseguiram confirmar, tiveram aquela sensação “wow, conseguimos!”?
Depois de algumas tentativas falhadas, Blanck Mass. Tudo nos atrai no universo do Benjamin Power Button. Desde a sua relação com a nossa editora fetiche, Sacred Bones, à relação com Genesis Breyer P-Orridge (de Throbbing Gristle/ PsychicTV), e porque o “Dumb Flesh” (2015) é uma obra-prima e porque toda a gente deveria ser fan-boy dos Fuck Buttons.
Quando organizaram a primeira edição do Mucho Flow imaginaram que, três anos depois, seriam capazes de reunir na mesma noite Nite Jewel, Bo Ningen, Blank Mass?
A primeira edição do Mucho foi muito espontânea. Não podemos dizer que havia um plano traçado ou uma ideia que sustentasse uma segunda edição sequer. Quisemos fazer um festival na rua, de acesso livre, com todas as condicionantes de um orçamento ridículo e assumidamente amador. Ainda assim, conseguimos ter três projectos internacionais. As coisas foram tomando outras proporções e de certa forma ganharam vida. A dada altura, percebemos que a receptividade do público foi demasiado boa para deixarmos as coisas por ali. A partir desse momento, é claro que começámos a sonhar com outras coisas. Somos muito sonhadores. Se nos perguntares que nomes gostávamos de trazer em 2020 ias achar que somos malucos.
Além de promotora, a Revolve é também editora e alguns dos projectos que tocam no Mucho Flow têm discos para editar em breve. Que papel pode ter a presença no festival no sucesso de um álbum?
Costumamos dizer que quem faz a música são os artistas e quem a recebe só poderá ser o público. Podemos falar no caso de Toulouse, que tiveram o seu primeiro concerto de sempre no Mucho, em 2014, e cuja receptividade foi muito boa. Tocaram em todo o território nacional sem terem um álbum editado, passaram por grandes festivais, chegaram rapidamente a um lugar de destaque nas rádios nacionais. Esse mérito é todo da banda e da música que fazem. É claro que nos enchem de orgulho por serem uma banda da nossa editora, nossos conterrâneos, e por se terem estreado no nosso festival. De uma forma mais genérica a importância pode ser maior quando o festival se torna uma referência numa área. E nós gostamos da ideia de estarmos a construir aos poucos a nossa identidade. Não é por acaso que vemos de ano para ano no Mucho Flow, um cartaz maioritariamente composto por artistas que trazem material em estreia absoluta.