Márcia & Úria: primavera reencontrada

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Sexta-feira de uma Primavera que se rende a um Inverno que teima em ficar. Fafe é uma cidade pequena, simpática, que em tempos idos esteve ligada por caminho-de-ferro a Guimarães e ao Porto. Hoje, está ligada por auto-estradas e vias rápidas. De Fafe lembramo-nos da vitela assada, no bruxo e da justiça.

A cidade é bem ordenada e genericamente bem conservada, de onde se destacam edifícios notáveis que enobrecem o espaço público. No meio destes está o Teatro Cinema de Fafe, uma sala de espectáculos em miniatura, que se tornou comum em pequenas povoações em tempos de abastança. Este, contudo, destaca-se pela deslumbrante fachada.

O teatro foi inaugurado em 1924 mas, como aconteceu com quase todas as salas do país, a falta de manutenção e de cuidado ditou o seu encerramento nos anos 1980, tendo posteriormente sido recuperado pela autarquia e reaberto ao público em 2009.

Sexta-feira, final de Maio de uma Primavera que anda perdida. Samuel Úria, Márcia e Filipe Cunha Monteiro sobem ao pequeno palco do teatro, com a plateia em frente cheia. Márcia exibe orgulhosa a sua barriga saliente, de quem traz um outro ser em gestação. O “barrigão” condiciona-lhe os movimentos.

Apesar de ser frequente a colaboração dos dois cantautores, este é apenas o segundo concerto de Márcia e Samuel Úria – os dois em palco, a partilhar um alinhamento que percorreu as canções de ambos, desde o primeiro disco de Úria – “Nem Lhe Tocava”, de 2009; até aos mais recentes “Quarto Crescente” e “Carga de Ombro”, de Márcia e Samuel, respectivamente.

A pequenez da sala e a proximidade entre o público e o palco permitiu que o concerto se desenvolvesse num registo muito informal, quase familiar, como se de uma sala de estar se tratasse. Márcia começou pelo tema “Sem Nome”, do seu primeiro álbum de 2010. O tom faltou-lhe por duas vezes e alguém da plateia completou o verso que faltava: “é humano ser assim”. A partir dali, todo o gelo que poderia haver derreteu.

Márcia e Úria conhecem-se desde os tempos do início das suas carreiras. O segundo começou antes e foi quem empurrou literalmente Márcia para o palco do Cabaret Maxime, para aquele que seria o primeiro concerto desta. Ao longo dos anos os dois tornaram-se inseparáveis, com colaborações nos discos e nos concertos um do outro.

Foram quase vinte os temas que foram interpretados e todas as músicas tinham uma história, o que fez o concerto alongar-se até às duas horas, sem que o público se importasse muito com isso. No final, já não era sexta-feira, a chuva já não caía e talvez já fosse Primavera. Este foi o terceiro concerto do 48/20 – Ciclo de Cantautores de Fafe, na próxima semana estará cá B Fachada.