Já no ano passado o festival do Parque do Taboão deu nota da sua cada vez maior popularidade, e os cerca de 100.000 bilhetes vendidos este ano não deixam margem para dúvidas: Paredes de Coura é o maior festival de música do Minho. E as margens do Rio Coura notam isso.
O Ócio chegou a Coura já os campistas estavam instalados, a recuperar da primeira noite de festival — quarta-feira abriu com Gala Drop, no Palco Vodafone, lugar por onde também passaram Ceremony, Blood Red Shoes, Slowdive e TV On The Radio. Estava um calor seco e, pela Vila, malta nova de tronco nu e calções de banho aproveitava a sombra ou a água dos chafarizes. Há que experimentar todas as soluções para recuperar uma noite mal dormida.
As portas abriram às 17h e no concerto dos bracarenses Peixe:Avião, uma hora depois, já o palco natural da música estava composto. O concerto onde os elementos da banda cantam para si mesmos convenceu o público, e poucos desistiram a meio para assistir a Pond, que começava no Palco Vodafone FM. A cada minuto o recinto começava a apertar — não fosse tocar neste dia Tame Impala — e percebia-se que o melhor seria jantar rapidamente, para não perder tempo em filas intermináveis. À hora marcada, Father John Misty começa e acaba em grande, sem saber: afinal, já no fim da noite, grande parte daqueles que assistiram aos concertos elegeram-no como o tipo do dia 20 em Paredes de Coura. Mas foi Rock ‘n Roll que se ouviu gritar por aqui e por ali no resto dos dias do festival, culpa de Legendary Tiger Man, que aqueceu o Parque do Taboão para Tame Impala — que tiveram todas as atenções da noite e ofereceram um primeiro concerto da tour cantável, pouco dançável, mas alucinável.
Antes de passar para o dia seguinte, temos mesmo de falar sobre o ambiente de Coura. No fim de Tame Impala as rolotes fora do recinto ficaram repletas de campistas esfomeados por um caldo verde ou um cachorro quentes, mas Mirror People, que começava o concerto fora de horas no Palco Vodafone FM, não sofreram com isso. Aliás, durante todo o festival, este palco foi claramente pequeno para a assistência que teve. Já passava das cinco horas da madrugada no habitat natural da música e o público continuava a ser mais do que a tenda suportava, inquietos ao som de discos que Nuno Lopes ia passando. Mais uma noite mal dormida.
Sexta-feira acorda rápida e quente, tão quente que só nos resta procurar uma sombra nas margens do rio Coura, ou ir almoçar num dos restaurantes da Vila. Lá em cima o ambiente é bem disposto, e toda a gente parece feliz por haver tantas pessoas bonitas rua acima, rua abaixo. Toda a gente está feliz! Cá por baixo, também. Os concertos no Palco Jazz vão mantendo o pessoal acordado, até que de repente ninguém fica indiferente e uma multidão canta Ornatos Violeta acompanhado por Peixe, que já estava no palco há um bom bocado. A seguir ouve-se poesia, e mais palmas junto ao rio: alguém atravessou as margens, a pé, por cima de uma corda.
O trânsito fluvial no rio continuava completamente congestionado, mas já era altura de entrar no recinto. X-Wife abriu o palco principal, e provaram que voltar ao sítio onde já se foi feliz (mesmo que 13 anos depois) é sempre bom. Quem lá esteve, agradeceu. E foram muitos os que estiveram neste dia, também esgotado, apesar de a maioria das pessoas lá estarem apenas para The War On Drugs e para o extraordinário Charles Bradley and his Extraordinaires, o avô que todos abraçaram. O novo James Brown, como é apelidado, protagonizou um dos momentos mais sentimentais de todo o Vodafone Paredes de Coura, e quem lá esteve certamente vai ter dificuldades em esquecer. Obrigado, Charles Bradley!
A noite continua, há Tanlines e Richard Fearless a tocar fora de horas, e as ameaças de chuva para o dia seguinte levam muitos a apostar todas as fichas nestas últimas horas de festival. E acertaram, mas só na metade. Paredes de Coura desperta (no início da tarde) com chuva: afinal aconteceu, apesar do calor abrasador dos dias anteriores. Quando se abriram as portas, às 17h, já o chão estava seco, e apesar de algumas ameaças, não molhou o suficiente para incomodar quem comprou bilhete para o festival.
Sob o céu cinzento escuro começam a juntar-se cada vez mais pessoas para ver Banda do Mar — nem imaginam o que estão a perder no palco ao lado, onde Holy Nothing estão a dar tudo, e o público está a adorar. Dois concertos, no entanto, que foram vistos apenas pela metade por muitos: as filas para aceder ao recinto estavam intermináveis, apesar de todos os esforços da equipa de segurança para acelerar o processo. No Palco Vodafone FM, seguiam os concertos mais memoráveis deste dia e os melhores de todo o festival: a brilhante Natalie Prass, e os inesperados Sylvan Esso e Fuzz. Quem lá esteve pode confirmar.
Felizmente, para quem ficou pelo palco principal, teve os competentes Woods e Temples, que juntamente com Ratatat e o seu concerto altamente visual e aplaudido, salvaram a noite. Lykke Li era cabeça de cartaz, mas mais valia nem ter lá estado (e não nos estamos a referir aos três quartos de hora do concerto). Foi pobre, e mau. Completamente o contrário desta edição de 2015 do Festival Vodafone Paredes de Coura: um dos melhores cartazes de sempre, num dos melhores sítios de sempre, com um dos melhores ambientes de sempre. Que continue assim, agora e sempre. Amén. Até porque estamos no Paraíso Natural da Música.