Reportagem do concerto dos Syberia com os Imploding Stars, no Bar N101
Nada me tiraria de casa a uma segunda-feira chuvosa de Março. Desde logo, por ser segunda-feira. O abrigo de casa era largamente compensador, face às condições agrestes do exterior. Este seria o raciocínio lógico em circunstâncias normais. No entanto, esta segunda-feira, 25 de Março, havia um motivo que a distinguia de praticamente todas as outras segundas-feiras: os Imploding Stars tocavam com os Syberia no Bar N101.
Este espaço tem uma atmosfera especial e enquanto penso numa forma de a descrever, imagino que ambiente semelhante seria possível encontrar em locais como o CBGB, o Haçienda, no Marquee em Londres ou mesmo no Cavern Club.
Contrariamente ao que costuma acontecer por aqui, os Imploding Stars abriram a noite cedo, o que foi uma boa opção. A banda de post-rock tem-se assumido como a mais recente e séria representante da cena de bandas taipense. Recentemente, deram uma volta pela Irlanda e agora estão a fazer uma série de datas no norte de Espanha, precisamente com os catalães Syberia com quem hoje partilham o palco.
A música dos portugueses escorreu em compassos lentos e sincopados. Sem demonstrar grandes virtuosismos, lá foram mostrando que são suficientemente competentes na altura de transpor para o palco o CD Young Route, gravado recentemente. As três guitarras vão-se sobrepondo em camadas finas, alternando frases melódicas que nos fazem acreditar que os rapazes sabem ao que andam.
A segunda banda da noite, os tais Syberia, apenas partilham com os primeiros a formação (três guitarras, baixo e bateria) e o facto de a música ser instrumental (não houve lá lá lás). De resto, o som torna-se mais aberto, como se de uma manhã de nevoeiro no meio das montanhas, passássemos para o meio seco, quente e abrasivo da meseta central ibérica.
Os Syberia dizem que alguém lhes disse que a sua música soa a uma mistura em partes iguais de calor e força. É uma boa descrição. Eu imaginei-me a ouvir a música dos Syberia ao volante do meu carro, a atravessar o interior do Alentejo, a uma velocidade moderada e sem destino nenhum.
No fim do concerto, a mesma luta interior que tive para sair de casa, foi semelhante à que tive para regressar. Determinante, foi o facto de ter os pés gelados, depois de alguém ter entornado um copo de cerveja ao meu lado.