5 perguntas a Larry Gus
O grego Panagiotis Melidis, aka Larry Gus, é um dos destaques do ciclo Soirée, que acontece nos dois próximos fins-de-semana em Guimarães. Antes do concerto do próximo sábado explica ao Ócio as influências da sua música, a mudança que ser editado pela DFA Records fez na sua carreira e a forma como vive os conturbados tempos políticos e sociais em Atenas.
ÓCIO – Fazes música eletrónica, que podemos considerar parte da cultura ocidental, mas a tua música é claramente influenciada pelo Médio Oriente, por exemplo, e pela Europa de Leste. Como é que isto acontece? Tem alguma coisa a ver com a proximidade geográfica destas regiões com a Grécia, ou com a música que ouves?
Larry Gus – Gostava de poder dizer que sei o que estou a fazer, que sou extremamente minucioso quando aponto numa certa direcção em relação ao que faço e à música que toco, mas não acredito que isso pudesse corresponder à verdade. A maior parte das vezes, a minha cabeça é como uma amálgama de informação aleatória e, com toda a honestidade, apenas tento materializar alguma coisa em que penso. E depois deixo de pensar sobre isso.
É claro que a noção de música “não ocidental” é muito atraente para mim, sobretudo porque eu próprio pertenço em parte aos Balcãs e aos Leste. Mesmo inconscientemente, essas são as minhas influências em termos de formação. Fiz parte de uma trupe de dança tradicional por muitos anos e fui exposto diariamente a ritmo de toda a Grécia e de países próximos, como a Turquia, a Bulgária, os países da antiga Jugoslávia, etc. É mais fácil para mim identificar-me com isso. Mas ao mesmo tempo, cresci a ouvir música americana e britânica e gosto realmente de estudar a forma tradicional de escrever canções que encontramos em Burt Bacharach, Jimmy Webb ou Ariel Pink. Dito isto, uma dos momentos mais inspiradores dos últimos cinco anos foi a compilação da Weltraum, uma pequena editora alemã, que se chamava “Eastern Standard Time”, que é como uma estranha colectânea de coisas que estavam gravadas no meu cérebro.
O disco “I need new eyes” pareceu mais maturo do que o álbum anterior, “Years not living”, com mais instrumentação e menos samples. Evoluíste como músico entre um disco e o outro ou isto aconteceu por algum outro motivo?
Estou a tentar afastar-me da escrita de canções baseada em samples, ainda que o meu coração e o meu cérebro se sintam extremamente confortáveis a fazê-lo. De certo modo, é a forma mais simples de fazer as coisas. Mesmo quando sou eu a tocar, gravo horas de guitarra e efeitos ou de bateria e percursão e depois corto samples e loops, que depois conjugo com samples que tiro de outras fontes. Às vezes não me lembro sequer de onde é que eles vieram.
Eu sou um músico muito, muito mau, no sentido tradicional. Eu sei tocar e toco suficientemente bem para os meus álbuns, mas sei que se fosse um músico há 25 anos, sem o Ableton e todas essas ferramentas, estaria a servir cafés num grande estúdio e estaria extremamente agradecido. Mas de algum modo, sabendo que posso melhorar as minhas performances, tornei-me cada vez mais confiante, ao ponto de querer que o meu próximo álbum seja 100% “samplefree”. Mas ao mesmo tempo não sei se será um álbum ou outra coisa qualquer, porque consigo entender que um ciclo de um álbum não funciona para um artista do meu calibre e talvez seja melhor se puder começar a tocar de forma menos esporádica.
O que vamos ouvir no teu concerto? Música dos álbuns anteriores ou material novo?
A maior parte dos meus espetáculos são improvisados. Tenho uma setlist com música específicas que vou tocar, mas a duração e a forma como as apresento varia. Às vezes intercepto coisas novas que incorporo no espetáculo e consigo tornar-me selvagem e caótico muito facilmente, por isso nunca sei verdadeiramente o que vai acontecer. Mas, sim, a maior parte das canções serão dos meus quatro discos, com um foco no último.
Que diferença fez na tua carreira começares a trabalhar com a DFA records?
Mudou tudo, para sempre. Estou extremamente grato à equipa da DFA. Apoiaram-me muito, tratam-me como parte da família. Acho que não podia estar mais feliz. É como um sonho que de alguma maneira nunca mais acaba. Até ao dia em que a realidade bata de uma forma imprevisível e comece a lixar as coisas mesmo à minha frente, mas até agora, tem sido insanamente incrível. Eles deixam-me expressar a minha esquisitice, estamos a criar uma relação de A&R como deve ser, que não creio que seja fácil de encontrar neste momento.
Como é que o ambiente político na Grécia afecta a tua carreira e a tua música?
Estive a viver em Milão e voltei a Atenas em Julho. Ainda estou a acostumar-me neste momento. Estou a viver mesmo no centro da cidade e há uma escola abandonada mesmo ao lado do prédio onde vivo, que se tornou num campo de refugiados. Estou feliz por estar no meio disso e poder ajudar directamente. Dessa forma, sou recordado dos problemas actuais do mundo e percebo que sou extremamente sortudo e privilegiado por poder ser músico, especialmente numa altura em que há tanto desemprego na Grécia e a vida de toda a gente está feita em merda.