Balanço Barco Rock Fest

The Last Internationale

The Last Internationale | Foto © Cláudio Rodrigues

Ao Barco Rock Fest só faltou uma enchente

Concertos excelentes, boas condições no recinto e preços em conta garantiram o sucesso da edição 2012 do festival de Verão vimaranense. Só os constantes atrasos dos horários e o público deixaram algum amargo de boca

Há uma imagem que não se esquece: Manel Cruz, de copo de uísque na mão, a brindar com o público. O Barco Rock Fest (BRF) terminou aí, no concerto dos Supernada e essa é o momento que melhor define a edição deste ano do festival de Verão vimaranense, que decorreu no passado fim-de-semana. Uma grande banda nacional em comunhão com o público, num concerto de grande qualidade a que só faltou um pouco mais de gente para se tornar um grande sucesso.

O BRF pode ser um festival pequeno, mas tem tudo o que há nos grandes palcos de Verão: Casas de banho limpas, zona de alimentação com oferta diversa (mesmo vegetariana) e muito espaço para circular. Junta-se a isto um bom palco, com luz e som de qualidade e até transmissão vídeo. É excelente para a sua dimensão e tem condições para crescer.

Supernada

Supernada | Foto © Cláudio Rodrigues

Além disso, dificilmente se conseguem juntar tantas bandas nacionais com tão boa qualidade num mesmo cartaz. Quem organiza o BRF mostra que está atento à boa música independente que se faz em Portugal. Os Supernada confirmaram o que já se esperava: têm à frente um dos maiores músicos nacionais da sua geração que se juntou a excelentes músicos para criar uma banda que já começa a criar um culto. Tal como eles, que actuaram no sábado, no dia anterior os Dead Combo já tinham mostrado que são um dos melhores projectos musicais que o país tem. Também D3O e Dapunksportif voltaram a Barco ao seu melhor nível. E ainda houve novidades de qualidade como The Last Internationale (a única presença internacional, vinda do Reino Unido), Kilimanjaro e, em especial, Nice Weather for Ducks. A banda de Leiria deu um dos grandes concertos do BRF2012 e arrisca ser um dos grandes nomes da música nacional dos próximos anos.

O BRF também não passou ao lado de um “epidemia” que este ano afectou todos os festivais nacionais: os cancelamentos. No primeiro dia, as britânicas 2:54, que eram uma das bandas aguardadas com mais expectativas, desmarcaram o concerto, tendo sido substituídas pelos muito diferentes, mas competentes Ninja Kori.

Mas se no Barco acontecem coisas como nos festivais grandes, há novidades que se saúdam. Os festivais de Verão, mesmo os mais pequenos, abusam dos preços praticados. No BRF tudo foi em conta. Desde o preço do passe para os quatro dias (20 euros), às cervejas (1 euro), passando pela comida. É possível ir ver música boa sem se sair com a sensação de que se foi assaltado.

Destes ingredientes se fez o sucesso do BRF, ao qual só se apontam dois problemas. Por um lado, não houve meio de fazer cumprir os horários que estavam anunciados para a actuação das bandas. Na sexta-feira, o atraso foi ligeiro, mas nos restantes dias a maior parte dos concertos começaram com mais de uma hora de atraso face ao previsto. Mas a grande fragilidade do festival foi o público. Mesmo com casas interessantes, especialmente nos últimos dois dias, faltou ao Barco uma enchente que o recinto e o cartaz justificavam.  Além disso, o público presente nem sempre foi o mais atento. Em alguns concertos havia demasiadas pessoas de costas para os artistas e mais entretidas nas suas próprias conversas do que em ouvir o que acontecia em palco. Talvez a excessiva juventude da maior parte dos participantes ajude a explicar a fenómeno.

Texto originalmente publicado no jornal O Povo.