A chuva não tirou o brilho ao Passa à Praça

Os Holy Nothing fecharam a segunda noite do festival

Os Holy Nothing fecharam a segunda noite do festival

Quando todos esperavam pelos concertos de Ditch Days e Toulouse, veio o anti-clímax. A chuva que começou a cair em Guimarães ao início da noite de sábado obrigou a organização do Passa à Praça a cancelar os dois últimos concertos do festival. O percalço não foi suficiente para tirar o brilho a uma edição inaugural em que se ouviu muita e boa música portuguesa, com destaque para os concertos de Sax on the Road, Galo Cant’Ás Duas e Holly Nothing.

Durante três dias, quase tudo foi novo. O festival, na sua primeira edição, a praça em que aconteceu, o largo de Donães recentemente inaugurado no centro histórico vimaranense e a música, alguma da melhor e mais recente que está a ser feita no país. Os primeiros sons ouviram-se na noite de quinta-feira, com o trio Captain Blue, a mostrar o seu rock fresco e um vocalista, Luís Ferreira, com a atitude certa de frontman marcante e voz à altura.

Num tom distinto, mais melódico, soou depois a voz doce de Sarah-Jane dos Hot Air Ballon, mas foram os Sax on the road quem encheu verdadeiramente as medidas na primeira noite do festival. O trio comandado por António Ramos, e que habitualmente integra também António Pinto e Jorge Nunes (este último ausente do concerto no Passa à Praça), faz-nos viajar no tempo e no espaço. O som jazzy conferido pelo trompete e saxofone, mas de forte influência rock, pareceu transporta-nos para os anos 1970, ao mesmo tempo que ia misturando influências árabes e asiáticas que nos levavam a outras latitudes.

Os sons do jazz voltaram a estar no centro de outro grande concerto, este já no segundo dia do festival. Os Galo Cant’Ás Duas são apenas dois (Gonçalo Alegre e Hugo Cardoso), mas desdobraram-se em bateria, guitarra, baixo e contrabaixo, numa sequência de ritmos sincronizados e vigorosos apresentados num formato de peça única, sem canções nem interrupções, e uma abordagem vibrante aos instrumentos.

Antes destes, os Malibu Gas Station fizeram soar as primeiras sonoridades frescas da electrónica na tarde cinzenta de Outono. O trio do Porto trouxe consigo dois elementos que se juntaram à banda, nesta estreia na cidade berço. Quem por ali se encontrava pôde ouvir “Ellie Parker”, lançada no ano passado e “China Blue”, uma faixa que ganhou vida ainda este ano.

À noite, a electrónica, uma aposta cada vez mais forte na nova música nacional, nesta noite foi rainha. Os Leviatã, Marco Duarte e Bernardo Barbosa, voltados um para o outro, conseguiram criar uma atmosfera de intensidade, capaz de transmitir aos presentes que, apesar de não se manifestarem de forma expansiva, mantiveram os olhos fixos na performance.

Já a praça estava composta quando os Holy Nothing subiram ao palco. A banda do Porto era aguardada com expectativa. Nelson Silva dirigiu-se aos espectadores e anunciou que iriam tocar “Hypertext”, albúm de 2015, mas prometeu novidades para breve. A enchente de pessoas que ali se encontrava aproximou-se do palco e as reações à electrónica animada dos Holy Nothing foram efusivas e uma constante ao longo de todo o concerto. Foi, sem dúvida, o ponto alto da noite.

No sábado, já com as nuvens escuras a anteciparem más notícias, fizeram-se ouvir os The Miami Flu, seguindo-se o dream pop dos vila-realenses Can Cun, que mostraram o seu mais recente EP “Thin Ice Dance Floor”, animando as varandas e as esplanadas do largo de Donães. Depois veio a chuva e o cancelamento de dois concertos muito aguardados. Porém, mais tarde, as forças juntaram-se no Bar do Convívio para ouvir This Penguin Can Dance.

 

Carolina Ribeiro, Rafaela Silva, Samuel Silva