This Land Is Mine

This Land is Mine, cena final
Charles Laughton, o realizador de um dos mais celebrados filmes de culto de sempre, A Sombra do Caçador, teve, infelizmente, mais possibilidades de mostrar o seu talento de ator que a sua extraordinária capacidade de contar histórias usando meios poéticos que ficarão para sempre no campo do que poderia ter sido e nunca foi. Neste filme haverá, sem dúvida, uma leve demão da sua autoria, mas é Jean Renoir o único a ser creditado como realizador. O auge da obra de Renoir é, contudo, em termos temporais, anterior a este filme que, não sendo uma obra prima, não deixa de ser obrigatório para quem se interessa pela história do cinema, seja pelo facto de ser o segundo filme de Renoir (filho do pintor do mesmo nome) durante o seu exílio nos Estados Unidos da América depois da ocupação nazi do seu país, seja pelo exemplo documental do que era a propaganda cinematográfica no tempo da Segunda Guerra Mundial (ainda que a milhas do génio de Chaplin em “O Grande Ditador”), seja pela possibilidade de ver Laughton num interessante trabalho de interpretação do argumento de Dudley Nichols, especialmente no que diz respeito à sua capacidade discursiva, num registo de oratória política exemplar, lá para o final do filme, quando o herói adormecido se revela, depois de uma longa peregrinação na via infame da cobardia e da sujeição voluntária à tirania. Talvez datado em alguns pormenores, o filme poderia bem servir de exemplo moral a uma sociedade que parece irremediavelmente narcotizada, endoutrinada e autocondenada ao deleite cobarde da coragem ritual fascista.

Pelo Cineclube de Guimarães, no Pequeno Auditório do Centro Cultural Vila Flor, 29 de Abril, às 21h e 45m.