Na Blackbox da Plataforma das Artes, um filme de Cassavetes pode ser o mote para uma Guimarães mais intelectual, mais cool, mais jazz. 2012 passou e com ela a obrigação de parecermos inteligentes e cultos, obrigação que nos torna apenas mais patetas. Um filme de Cassavetes é sempre uma experiência intelectual descomprometida com a obrigação de parecermos inteligentes. E este filme, Sombras, de 1959, é uma peça de jazz improvisada sobre personagens que conversam, conversam e conversam sobre o ritmo de um baixo contínuo chamado cidade. Em Guimarães não se conversa, dizem os muito conversadores críticos vimaranenses. Em Guimarães fazem-se coisas, falar é para ociosos. Sombras é um filme ocioso, como só poderia ser ocioso um filme sem guião onde se diz aos atores e não atores para conversarem sem a pretensão de parecerem outra coisa para além daquilo que são. No fim, como em qualquer filme, restam sempre sombras, imagens vagamente semelhantes ao objeto que as imprimiu. E como tudo na vida é, também, um jogo de sombras, ensina-nos este filme que o cinema, como a literatura, o teatro, a música, não é um caminho para a alienação (como defendem muitos intelectuais alérgicos ao celulóide), mas um atalho onde as sombras são escolhidas e depuradas, aumentando as hipóteses de se tornarem, as outras sombras da nossa vida, mais luminosas ou, pelo menos, mais contrastantes. Vamos conversar, então. Terça feira à noite.