Soirée: Uma volta ao mundo no CAAA

Geneva Jacuzzi

Geneva Jacuzzi

Vamos poder correr uma boa parte do mundo através da música, em três noites de Maio, no Centro para os Assuntos da Arte e da Arquitectura (CAAA), em Guimarães. O ciclo Soirée, organizado pela promotora e editora Revolve, que começa na próxima sexta-feira, junta o grego Larry Gus, as americanas Geneva Jacuzzi e Prince Rama, os britânicos Blood Sport e alguns dos projectos mais curiosos da nova cena musical portuguesa como e.g.b.o. e Älforjs. Em paralelos, serão projectados filmes de realizadores nacionais contemporâneos como Edgar Pêra, Rodrigo Areias ou Jorge Quintela.

O ciclo Soirée arranca no próximo sábado, dia 14, com e.g.b.o. a apresentar o seu novo disco, “Yesterday You Said Tomorrow”, editado recentemente pela Revolve e pela Tsuno. Este projecto de Lisboa faz música eletrónica a partir de batidas de hip-hop lo-fi reconfigurado e desmaterializado. Seguindo entre os ritmos eletrónicos, seguir-se-á o produtor grego Panagiotis Melidis, mais conhecido como Larry Gus. O autor de “I Need New Eyes”, editado no ano passado pela DFA Recrods, de James Murphy (LCD Soundsystem) cria uma rapsódia de eletrónica pontilhista, samples e pop psicadélica, com influência do afrobeat e da música do Médio Oriente. A noite será encerrada por Tiago (Miranda), um vimaranense há muito radicado em Lisboa, que é DJ residente da discoteca Lux e passou por projectos nacionais como os Pop Dell’Arte, Loosers, Gala Drop e Dezperados.

O ciclo Soirée é fruto de uma parceria entre a Revolve e a produtora Bando à Parte, também sediada em Guimarães. As duas estruturas têm vindo a colaborar desde 2013, reunindo de forma aberta as duas expressões artísticas a que cada uma delas se dedica debaixo do mesmo tecto – neste caso, a black box do CAAA. No intervalo de cada concerto, serão exibidas curtas-metragens de realizadores nacionais. No primeiro dia do ciclo, passa “Arquitectura de Peso” (2007), onde Edgar Pêra opera uma reinterpretação de imagens de arquivo de quatro edifícios que marcaram a arquitectura em Portugal, ligados a estratégias de projecção internacional do país (Centro Cultural de Belém, Parque das Nações, os estádios de futebol do Euro 2004 e a Casa da Música). “Carrotrope” (2012), filme de animação de Paulo d’Alva que mereceu prémios de festivais de cinema como o Avanca e o Monstra, também faz parte da selecção, bem como “Corrente” (2008), de Rodrigo Areias, galardoado com o prémio de melhor curta nacional na 16ª edição do Curtas de Vila do Conde, que tem música de Sean Riley & The Slowriders e as minas da Panasqueira, na Covilhã, como personagem principal.

No segundo dia do Soirée, que acontece na sexta-feira seguinte, a 20 de Maio, as propostas cinematográficas são “Ausstieg” (2010), de Jorge Quintela, um filme de bolso feito a bordo de um comboio em Berlim (Menção Honrosa na secção da competição experimental do Curtas de Vila do Conde de 2010). Também ligado ao universo dos comboios está “Fuligem” (2014), de David Doutel e Vasco Sá, uma curta de animação que cartografa os caminhos-de-ferro em Portugal, com música de Legendary Tiger Man e Rita Redshoes. Já “Vista Aérea Sobre o Rio Ave” (2015), de Pedro Bastos, é uma espécie de pedido de desculpas ao rio Ave pelos maus-tratos de que tem sido alvo há mais de cem anos.

Em termos musicais, a noite do dia 20 será dominada inteiramente por mulheres, com duas propostas entusiasmantes vindas dos Estados Unidos. Geneva Jacuzzi, que regressou este ano aos discos com “Technophelia”, um disco de dark wave com referências que vão de Nina Hagen a Ariel Pink, passando por Philip K. Dick e pelo imaginário dos clubes de strip dos anos 1980, abre a noite. Seguem-se as irmãs Taraka e Nimai Larson, mais conhecidas por Prince Rama, com álbum novo acabado de lançar. “Xtreme Now” é um programa festivo onde o synth pop se enrola com os barroquismos dos 80s, percussões e outros motivos rítmicos. A pista será encerrada por MVRIA, DJ portuense que aposta nas sonoridades techno, house e bass.

O Soirée ficará completo no dia seguinte, 21 de Maio, numa noite inaugurada pelo trio nacional Älforjs, de Raphael Soares (bateria), Bernardo Álvares (contrabaixo) e Mestre André (electrónicas), que recentemente editaram “Jengi”, álbum de estreia. Depois é a vez do afro-beat em cruzamento com o pós-punk dos britânicos Blood Sport, autores de “Axe Laid To The Root”. O encerramento está a cargo de DJ Lynce, nome de código de Pedro Santos, do colectivo portuense Faca Monstro.

Pelo meio, há mais três curtas-metragens para ver. “One Way Or Another” (Reflections of a Psykokiller) (2012), nova proposta de Edgar Pêra, sobre um jovem coreano que deambula pelas ruas da cidade de Busan; “Outro Homem Qualquer” (2012), um filme de animação de Luís Soares, debruça-se sobre o peso dos dias e a repetição do quotidiano a partir dos olhos de um homem sentado num café. E para encerrar, o belíssimo “Carosello” (2013), de Jorge Quintela, distinguido com o Grande Prémio do 21º Festival de Curtas de Vila do Conde.