Lisboa, inícios do séc. XX, transição conturbada entre a Monarquia e a República.
No cenário operático e onírico, dois escritores geniais deambulam pela cidade.
Manoel de Oliveira e Luiz Pacheco dão uma perninha pelo meio e a Leonor Pinhão também por lá anda.
Em 1981, João Botelho inicia-se na longa-metragem com um delírio que anunciava uma obra singular no contexto do cinema português. Voltaria a Pessoa para filmar o seu desassossego, mas passaria antes por O’Neill, Dickens, Garret, Diderot, Agustina e Carolina Salgado. Mas o cinema de Botelho já estava todo lá. Nenhum outro cineasta português soube filmar até hoje a literatura como ele. E agora virá Eça no seu esplendor.
Corrosivo como só ele sabe ser, João César Monteiro, vulgo João Raposão Audiovisual, persona non grata, também nos daria uma versão alternativa do filme, do seu realizador e do cinema português em geral. Com uma memorável interpretação da jovem Alexandra Lencastre, Conserva Acabada é uma sátira corrosiva ao filme de Botelho que vale a pena rever antes ou depois do filme para sabermos algumas cusquices do meio.
E por falar em lavar roupa suja… Pelo meio, Botelho ainda teve tempo de desancar meia dúzia de comentadores “culturais” de Alcabideche a propósito dos mitos e lendas do cinema português. Uma peça imperdível.
O filme de Botelho, aquele por onde tudo começou, pode ser visto esta noite, às 21h45, no Pequeno Auditório do CCVF. Vão! Que vale bem a pena!