Paisagem Transgénica

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Há cerca de dois meses visitei a exposição Missão Fotográfica: Paisagem Transgénica, que se encontra patente até amanhã, 20 de maio, no Palácio do Centro Cultural Vila Flor. A exposição de  fotografias sobre Guimarães reúne registos de quatro dos maiores fotógrafos da atualidade – Katalin Deér, Filip Dujardin, JH Engstrom e Guido Guidi –, convidados a visitar e a fotografar, pela primeira vez, Guimarães.

Organizada de forma inteligente, a exposição vai conduzindo o espectador a uma visão/reflexão sobre o próprio território, monumentalizando o quotidiano quase sempre impercetível. Os fotógrafos em missão não quiseram saber do habitual registo-para-postal (as tradicionais fotos sobre Guimarães que aparecem em tudo o que é postal: Castelo, Paço dos Duques, Largo da Oliveira, Campo da Feira, Toural), exceto Filip Dujardin, que questiona esta realidade transformando-a em ficção – afinal de contas, apenas no plano simbólico/emocional é que a maioria dos vimaranenses pode ser identificado pelo Castelo ou Paço dos Duques, porque a nossa realidade é bem diferente.

A exposição começa com fotografias de Guido Guidi e Katalin Deér, retratando, no primeiro caso, uma realidade tangível e de fácil compreensão, lado a lado, em registos quase sempre iguais; no segundo caso, reproduções ampliadas e libertas de moldura, para contemplação, sobre mesas mal recortadas que fazem todo o sentido no conjunto, descomplicando aquilo que é, habitualmente, um ato bastante formal. Se calhar exagero na interpretação, mas parece-me mesmo que Katalin Deér quer colocar definitivamente de lado todas as formalidades de uma exposição para a Capital da Cultura; no final de contas, cultura, pode ser tudo isto, deve ser tudo isto.

No primeiro piso, Filip Dujardin e JH Engstrom. O primeiro – como disse — com uma abordagem à missão fotográfica como oportunidade de reflexão crítica ao próprio conceito de missão fotográfica; o segundo, Engstrom, mais plástico, com o registo final escrito à mão da sua passagem por Guimarães e da sua relação com o mundo global, com o seu país, com a sua própria vida.

A exposição tem curadoria de Paulo Catrica e Pedro Bandeira. Como é explicado no texto sobre a exposição, “o geógrafo Álvaro Domingues denomina este território como “paisagem transgénica”: um lugar esquizofrénico, polarizado entre a cidade “extraordinária” carregada de memórias, narrativas e identidades, e a paisagem “ordinária”, genérica, difusa, onde os restos do mundo rural se dissolveram entre fábricas, veigas, bouças, casas e estradas”. É mesmo assim.

(Podem ver mais imagens sobre a Missão Fotográfica, Paisagem Transgénica na página de Facebook do Ócio.)