O Deus da Carnificina, de Polanski

 

Definir o cinema de Polanski com os fantasmas que o habitam é um lugar comum. E os lugares comuns são, como o nome diz, espaços partilhados. Há sempre, num filme de Polanski, o olhar daquele realizador que não compreendia a sobreteorização a que eram sujeitos os seus filmes, transformados pelo ócio dos espetadores que se querem sentir espertos, em símbolos freudianos e em elementos sígnicos de semiótica. Polanski sempre quis, apenas, contar histórias, divertir, assustar, preencher o vazio.

Se há algo de insano já nos seus primeiros filmes, a insanidade parental contemporânea parece ser um bom tema de partida. Kate Winslet, Jodie Foster, Christoph Waltz e John C. Reilly prometem um filme centrado no trabalho dos atores e que explora a riqueza violenta das relações humanas quando o verniz social da polidez estala e ressaltam as paixões pelos pormenores. Que as coisas são assim porque somos na maior parte do tempo aquilo que não somos, pode ser a moral que se adivinha. Mas Polanski sempre foi avesso a morais, pelo que, não conhecendo eu a peça de Yasmina Reza, que dá origem ao filme, posso esperar, do que conheço do resto da obra desta dramaturga, uma crítica bem-humorada dos maus humores que nos tomam sempre que tocam naquilo que julgamos amar. Uma “dramédia” sem grandes preocupações metafísicas.

Amanhã, no São Mamede, às 21 e 30. Sessão do Cineclube, julgo eu… que já não sei destrinçar o que é da responsabilidade do Cineclube e o que é da CEC… mas isso agora não interessa nada.