A frase é de HAL 9000, o super computador de 2001 – Odisseia no Espaço, em justificação às dúvidas dos astronautas a propósito de uma avaria de uma antena parabólica da nave Discovery One que o computador dirigia. Trata-se de uma sena fulcral na narrativa porque é aí que todos percebem que o confronto entre os austronautas – o homem – e o super computador – a máquina – se torna inevitável.
O megalómano épico de Kubrick começa nos tempos pré-históricos – uma espécie de um prólogo intitulado a alvorada da humanidade – mas centra a sua acção em 2001, então uma metáfora do futuro longínquo em que o homem viajava através do espaço sideral. Maas, mais do que um filme de ficção científica com efeitos especiais inovadores e uma narrativa empolgante e fascinante, Kubrick pretendia que 2001 – Odisseia no Espaço promovesse uma reflexão filosófica sobre a existência humana, o futuro da sociedade de então, e o seu lugar no universo. Para isso, decidiu adaptar o conto The Sentinel, de Arhur C. Clarke, com a ajuda do próprio autor e cruzou-o com uma série de várias referências culturais e filosóficas que iam de Homero (a inspiração directa no título) até Nietzsche. Mas, ao contrário do livro de Clarke, que pretende dar explicações concretas ao leitor, Kubrick optou por encriptar o seu filme com várias variantes poéticas e filosóficas que o tornavam numa narrativa mais visual do que verbal, propensa à subjectividade do espectador.
O projecto arrancaria no início de 1964 e demoraria quatro anos a chegar às salas. Apesar de um desinteresse inicial, ao fim de poucas semanas o filme tornou-se um êxito de bilheteira nos Estados Unidos e depois estrearia em dezenas de países em todo o mundo. As condições de projecção em 70mm, onde isso era possível, potenciou os aspectos visuais e coreográficos do filme, transformando-o numa experiência sensorial memorável. A popularidade do filme justificaria uma sequela – 2010 – O Ano do Contacto (1984, realizado por Peter Hyams), mas nem chegou perto do sucesso do original.
Hoje, a partir das 21h45, o filme é exibido – numa invejável cópia digital restaurada – na sessão do Cineclube de Guimarães.