O Samuel Silva bate, forte e feio, no “Guia para um final feliz” e, mordaz, na fotografia que ilustra a sua opinião, em vez de nos brindar com o Bradley Cooper envolto num saco para o lixo ou com a Jenniffer com olhinhos de carneiro mal morto, decidiu sacrificá-la no altar do ridículo a que todos estamos sujeitos. Entenda-se, eu gosto do “Guia para um final feliz”. Em princípio, não nos oferece mais do que qualquer série americana já nos oferece, com suficiente complexidade intelectual e humor de fim de tarde. Na verdade, em termos de argumento, roça uma receita de pura banalidade, a que a personagem de Robert de Niro se rende com a facilidade dada pela inércia de quem já não está para aplicar o Método de Stanislavski a nada do que venha a representar. Então, o que há neste filme que seja de gostar justificadamente? Uma coisa. Uma personagem, central, que é filmada com uma subtileza fordiana e um virtuosismo godardiano, apesar de um invólucro mcdonaldiano: a doença bipolar. Cada momento de ilimitado otimismo e crença inabalável numa clarividência divina de infinita ternura nublada pelo espectro das paixões violentas é filmado segundo um ritmo que, acolhido com benevolência pelo espectador, se torna numa experiência de profunda compaixão. A expressividade vegetal de Cooper ou a caprina sensualidade da Jenniffer servem o intuito na perfeição, pelo que, a meu ver, bem merecem a consagração nos óscares, instituição tão desprezível aos olhos dos verdadeiros cinéfilos quanto sedutora. Como as pipocas, aliás. Hoje estou um bocado bipolar e acho que esta é a minha última contribuição para o Ócio. Saravá! Até sempre. Vou fazer pipocas, já que a Castello Lopes fechou.