À noite, no claustro do Paço dos Duques, com a lua e as estrelas a espreitarem através das chaminés, um ecrã de cinema. Já passou Oliveira, Fassbinder e, hoje, um filme de uma das poucas pessoas que conseguiu conferir à palavra austeridade um brilho e calor em todo oposto à aspereza desumana com que o vocábulo tem andado contemporaneamente a infernizar vidas. Robert Bresson, escritor de imagens, inspirado profeta da liberdade interior, descreve minuciosamente cada gesto mínimo de um homem que foge da prisão. Um conceito de cinema feito de tensão e de paciência, de desejo e calculada e dirigida autorrepressão. Um filme de uma beleza extrema e capaz, no seu minimalismo, de prender qualquer pessoa a uma história de nervos que nos dá paz. Hoje, às 21 e 30, no Paço dos Duques, com entrada livre e entrega dos bilhetes, 2 por cada pessoa, uma hora a partir das 20e 30.
Podia ainda dizer que o filme é baseado numa história real (isso, ao que parece, vende) mas é mais que isso (sendo também isso). Filmado no local onde se passou, com os adereços usados pelo próprio fugitivo, André Devigny, resistente francês, enquanto prisioneiro dos nazis. Podia dizer isso, mas isso interessa pouco. Ou nada.