Cosmopolis – ou o sentido da vida contemporânea

 
Cronenberg apresenta-nos um filme para digerir um mundo psicótico no  seu non-sense capitalista, misturado com um despertar de rebelião absolutamente contemporâneo. Insatisfação, fome e necessidade de sentido para uma vida absurda -uma vida  que se procura controlar milimetricamente, mas onde a perfeição desejada se perde nas constantes buscas de libertação. Porque o capitalismo parece oprimir até aquele que dele usufrui. O mesmo que observa com gosto as ruas a saque, com especial prazer por ser atingido.

Tudo no filme fica por resolver e por cumprir. O capitalismo, a revolução, as ratazanas, as vidas, … o mundo por resolver num tiro que se dispara sobre o outro como sobre a própria mão para que sinta algo, para que sinta ou para que faça sentido…Um desejo tentador de uma revelação que ficamos sem saber.

Do ponto de vista da narrativa, o desenvolvimento que nos conduz ao final toma um rumo insuspeito e que pode parecer desconexo. Os “39 degraus” da história assumidos pelo corte de cabelo, são deixados de lado cumprido que fica o corte inacabado. Mantém-se o desejo de libertação, a hiperprotecção cede cada vez mais lugar ao desafio – desejo latente ao longo de toda a história. Do encontro dos opostos em duelo há diálogos que não justificam o que fica para trás e cujo confronto não é mais que um contrato de cavalheiros ou a atracção de um mundo pelo outro, não há resposta ideológica. Nem moral da história na tela negra que não seja a que cada um lhe atribuir.