Amanhã, na caixa negra da Plataforma das Artes, o Cineclube de Guimarães, a Cidade Europeia do Desporto 2013 e a Associação Coopolitics trazem Belarmino de volta à tela. O filme homónimo de Fernando Lopes, estreado em 1964, fala da ascensão e queda de Belarmino Fragoso, um antigo campeão de pugilismo retirado com um sonho por concretizar num Portugal amarrado pelo cinzentismo do Estado Novo.
Filme híbrido, que se move confusamente entre o documentário e o ficcional, Belarmino é muito mais que um mero bio-pic, é um ensaio sobre a ascensão e queda de um português semi-analfabeto que teve como ponto alto da sua vida a oportunidade de se tornar num campeão internacional de pugilismo.
Um olhar angustiado sobre um herói que não o foi nem nunca o será., é também o retrato de uma cidade e de um país sem futuro, o filme de Fernando Lopes usa estratégias do “free cinema” inglês para mostrar o outro lado de uma realidade oficial, uma cidade subterrânea que alimenta os sonhos nos clubes nocturnos ao som da música jazz.
Símbolo de uma geração derrotada – as derrotas nas eleições presidenciais de Norton de Matos (1949) e Humberto Delgado (1958), a ilegalização do MUD (1949), o início da Guerra Colonial (1961), a asfixia permanente do movimento cineclubista com as prisões a dirigentes e a extinção de vários cineclubes, entre outros – pela acção opressora e repressora de um regime conservador e autoritário.
Belarmino é, simultaneamente, a capacidade de sonhar numa terra sem sonhos. Apesar de datado, Belarmino continua a ser um olhar actual sobre Portugal e o seu destino, uma oportunidade para reflectir sobre o nosso passado recente e, sobretudo, o nosso futuro.
Um filme imperdível!
Amanhã, às 21h45, na Plataforma das Artes e da Criatividade.