E se o tempo não existisse? Esta é a pergunta que o filme “Le Cose Belle” coloca logo no seu início. Integrado na festa do cinema italiano, que o Cineclube de Guimarães trouxe também para o Minho, o documentário em jeito de filme trágico-cómico (tal como a vida) deixa esta e outras perguntas interessantes na mente do seu espectador.

E se o tempo não passasse de uma ilusão? O tempo não será mais do que uma partida sem graça que Deus pregou ao Homem? Quem seremos no futuro? Como podemos mudar tanto? Onde, quando e como fomos atropelados pela vida?

“Le Cose Belle”, de Agostino Ferrente e Giovanni Piperno, mostra o antes e o depois da vida de quatro jovens nas saias da cidade de Nápoles. O produto aplicado para tirar e julgar as fotografias do antes e do depois é o tempo, mais precisamente um intervalo de 14 anos.

São dois rapazes e duas raparigas. Eles sonham ser cantores e futebolistas. Elas querem ser modelos e actrizes. Em comum entre eles estão os sonhos, os problemas com os pais, os chatos dos irmãos, a falta de interesse pela escola, o gosto pela música, a vista gasta da janela e a imagem de Jesus de Cristo nas habitações.

Uma década depois, as coisas não correm como esperado, pregando a vida uma rasteira aos quatro jovens, que acabam por trabalhar a vender porta à porta, nas limpezas, em bares nocturnos, ou não trabalham de todo.

Enquanto o optimismo pelo futuro dos quatro jovens pode ser associado à beleza da paisagem à beira mar da cidade, a feiura da vida presente dos quatro jovens (agora adultos) pode ser encontrada no lixo que entope a cidade, que lentamente morre no seu coração.

A mensagem que o filme passa é que apesar de certos sonhos ficarem quebrados no chão em mil cacos, há sempre um motivo para sorrir.

O título do filme baseia-se numa expressão napolitana optimista de que existem muitas coisas na vida. Na verdade, muitas delas serão más, mas como existem tantas coisas na vida, algumas delas serão boas. E essas são as coisas a aproveitar, as que podemos chamar de belas.