Desde sábado passado e até 14 de julho, todos os caminhos do cinema vão dar a Vila do Conde. A cidade recebe cinéfilos, realizadores e demais público na 21ª edição do Curtas. Cinema e música, em cruzamento com outras expressões artísticas, são o prato principal neste evento que é já, há alguns anos, uma referência nacional e internacional em termos de certames cinematográficos.
Filme em filme
Para além das habituais secções que compõem o Curtas Vila do Conde, este ano a Solar – Galeria de Arte Cinemática propõe um programa ambicioso intitulado FILM. Uma exposição que mostra como, nesta era do digital, existem vários cineastas ou artistas, que mostram obras que partem do suporte cinematográfico. “Estas pessoas trabalham com a película e tiram partido dela numa época em que este suporte vai sendo abandonado. Isto está patente na nossa competição. Contam-se pelos dedos das mãos os filmes que nos chegam em película. É tudo digital. O que estes artistas fazem nesta exposição é algo impossível de fazer com os processos digitais. Ainda há coisas que não é possível explorar se não for em película.” refere Miguel Dias, diretor do Curtas.
Bill Morrison, o autor americano homenageado no In Focus, parte também da película e da degradação física e química do filme causada pela ação do tempo. Segundo Miguel Dias, “Além dos efeitos estéticos imprevisiveis e aleatórios mostra-nos uma nostalgia pelas imagens do passado. Fica a sensação de algo que desapareceu e não voltaremos a ver.” Apesar de já ter passado por Guimarães na Capital Europeia da Cultura, em 2012, é a primeira vezes que se faz uma mostra mais alargada deste autor, com uma longa-metragem, uma sessão de curtas, várias curtas na exposição e uma masterclass onde fala do seu trabalho.
Curtas em Stereo
Como nem só de filmes vive o cinema, este ano a música volta a ter uma presença mais marcada no Curtas, à semelhança das últimas edições. Segundo Miguel Dias, um dos diretores do festival, isso aconteceu de forma natural. “Tem a ver com os projetos que chegam. Há coisas extraordinárias, mas não podemos fazer tudo, por questões orçamentais ou tecnológicas.” Assim sendo, são 5 as propostas que cruzam a música e a imagem. A habitual encomenda da banda sonora de um filme mudo clássico, este ano a cargo dos Zelic que musicam “Bucking Broadway” (1917), uma obra do período mudo de John Ford, e uma das mais recentes recuperações de filmes que se julgavam perdidos. Vítor Rua e Rita RedShoes + The Legendary Tigerman tocarão ao vivo a banda sonora de dois filmes de Paulo Abreu (“Barba” e o “Facínora”, respetivamente). João Vieira (X-Wife e DJ Kitten) apresenta ainda White Haus, um projeto com uma carga visual ampliada à medida do festival e, finalmente, o músico e compositor italiano Alex Puddu mostra um espetáculo musical para filmes porno dinamarqueses dos anos 70.
Curtinhas – Curtas para toda a família
Como tem vindo a acontecer em outras edições, o festival volta a incluir os mais pequenos na sua programação com o Curtinhas. Aqui, para além das sessões de cinema, as crianças têm à disposição um conjunto de atividades específicas em torno da imagem em movimento.
A programação do Curtinhas coincide com sessões para os adultos, permitindo que pais e filhos usufruam do festival separadamente, e o acesso é livre mediante a apresentação de um bilhete para uma sessão do Festival no mesmo horário.
Fotografias de Silvestre Zamith