A Torre de Palha da Veiga

É um castelo? É uma torre? É uma pirâmide? É tudo isso e muito mais. Uma enorme construção de fardos de palha dá as boas-vindas a quem chega a Guimarães, pela auto-estrada. Está ali plantada em plena veiga de Creixomil e, caso tenhas dúvidas sobre “o que é aquilo”, não é o repasto do gado de um agricultor local (para já, pelo menos). É arte, feita de palha. E o seu nome oficial é AgriCultural Mountain.

Foi a ideia de três gajos — dois arquitectos e um designer , quando viram o concurso da CEC 2012 Performance Architecture, que desafiava o pessoal a propor intervenções urbanas temporárias, que provocassem o público e reinventassem o espaço público. Palavras difíceis e caras que, basicamente, significam “esqueçam aquelas construções limpinhas e minimalistas, façam coisas muito fora”. A coisa correu tão bem, que este trio acabou por ser uma dos cinco ideias seleccionadas dos 260 projectos a concurso.

Enquanto falava com os três responsáveis pelo projecto (Nuno Cruz, Bruno Gomes e António Lopes), alegremente sentada no monte de feno, fui percebendo que aquela história de “provocar o público”, pelo menos naqueles primeiros minutos de vida do edifício, estava a dar resultado. Um em cada dez carros que passava pela auto-estrada buzinava e acenava, efusivamente. Seria pelo entusiasmo perante a obra? Ou seria para os carros da frente que abrandavam embasbacados a olhar na nossa direcção

Independentemente da razão, por mais fotos que vejas do dito cujo, é surpreendente vê-lo ao vivo. E, se for ao fim da tarde, ainda melhor, porque aproveitas o pôr-do-sol. Ou seja, é um óptimo sítio para o amor, também.

Como chegar
Não pares o carro na auto-estrada, para saltar lá para dentro. É uma contra-ordenação muito grave e podes ficar sem carta. Ou sem pernas. Convém ires até Creixomil. Estás a ver a roulotte dos kebabs no cruzamento? Entra nessa estrada de terra e estaciona por aí. Depois, segue o caminho de terra batida e não há como enganar: é o monte de palha ao fundo. Só há um.

O processo
Este último fim-de-semana foi o escolhido. Meteram as mãos na palha e construíram esta torre. O bom tempo acompanhou-os desde o início, o que à primeira vista até parece uma cena muito fixe, mas acreditem: andar a carregar fardos de palha num terreno baldio, sem pinga de sombra, com uma temperatura média de 35ºC, não é pêra doce. Pensa duas vezes, se estás a tirar o curso de arquitectura.

Mas, o verdadeiro “fardo” deste trabalho foi outro. Apesar dos estudos que os autores tinham feito sobre os preços e sobre a disponibilidade da matéria-prima (a palha!), quando, finalmente, tiveram de arregaçar as mangas para a construção, o Bruno, o Nuno e o António deram de caras com uma “crise de palha”, devido às condições meteorológicas deste ano (volta petróleo, estás perdoado).

Escusado será dizer que para estes três rapazes, o mundo da palha ganhou outra dimensão nos últimos meses e, assim, tornaram-se verdadeiros especialistas na matéria. Por exemplo: sabias que os fardos de palha têm tamanhos variados? E que uns são mais perfeitinhos que outros? E que a maior parte da palha consumida em Portugal vem de Espanha? E que o preço pode variar de acordo com algumas condicionantes? Pois é, questões que nunca te terão passado pela cabeça, enquanto te rebolavas no palheiro dos teus avós, nas férias de Verão.

Se já estavas todo animado a pensar em construir um T1 no terreno baldio ao lado da casa dos teus pais, com meia dúzia de fardos de palha, desengana-te, e opta pelo cimento, que deve ter um mercado mais estável. Às vezes, mais vale não inventar muito.

O que fazer na palha
Para além da resposta mais óbvia (principalmente, tendo em conta que está situada num local onde o pessoal vai passear, ao pôr-do-sol), o objectivo, agora, é desafiar artistas a criarem projectos que potenciem os espaços interior ou exterior da construção.

Basta pedir à CEC e enviar a proposta, são eles que gerem o espaço e que ajudam o pessoal que quiser intervir (tens até final de Setembro). Uma sugestão: não proponhas nada que envolva churrascos. É capaz de não ser boa ideia no meio de tanta palha.

Conselhos práticos para visitantes
Não leves sandálias, nem sapatilhas brancas. A palha pica e a terra suja. Não vás com as pernas ao léu, nem com tecidos que possam ficar com fios puxados, a palha é um material caprichoso. Antes de saíres de casa, veste-te como se fosses rebolar num palheiro e tudo vai correr bem.

E a palha? De onde vem? Para onde vai?
Esta construção é totalmente eco-friendly. Quando, em Setembro, se desmontar o edifício, todos estes fardos de palha voltarão ao seu destino original: um banquete para a bicharada. Nada se perde, tudo se transforma.

 

Este texto, da autoria de Adriana Miranda Ribeiro, foi originalmente publicado na VICE Portugal (secção Gróia 2012).

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